segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Celebração

A taça é levantada
Assim a favor da luz
Da brisa e aromas azuis
Sua de excitação
No choque de líquidos
Fluídos, bolhas de vida
Histórias encerradas
No enredo
E que ainda estão por vir
Cores febris
Do dourado ao púrpura
Cumprimenta ao palato
Acaricia o afago
Liberta palavras sutis
Gotas escorrem e desenham
Grafitam na transparência
Encerram capítulos
Abrem parágrafos
Cantam no cristal
Coros dos desafogados
Ópera dos afortunados
Celebrando mais um ano feliz!

Baco Dionísio, agradecendo e retribuindo seus desejos
10/11/2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

É dez ou são dez?



No sentido das coisas
Nem sempre há concordância
Regras, sabê-las de cor
Para quebrá-las decoradas
Mesoclisando todos os artigos
Te amo ou amo-te?
Escrevendo ou falando
Desafios sempre os há
Sorrir por dentro
Gargalhar por fora
Ser feliz com a tez tensa
Distender sem perder o tesão
Te encontrar para me encontrar

Baco Dionísio
07/10/08

São dez

Duas vezes cinco sentidos
Todos os sentidos
Antenados
Parabólicos
Escancarados
Pela haste
Da varinha de condão
Tocando sinos
Derrubando polens
Para sair do chão

Baco Dionísio
07/10/08

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O que é o amor?

Ele se define
Pela própria indefinição
É um gostar sem razão
Sem buscar explicação
É a falta de ar
Com todo o gás do mundo
É a vontade de acordar
Mesmo no sono profundo
É o ressuscitar
Do poeta moribundo
É o encontro do mar
Com o doce rio inundo
É sentir no paladar
O desejo do outro a fundo

Baco Dionísio
17/09/08

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Setembro

Derrete
Esquenta com tuas cores
Este clima de bolores
Horrores climáticos
Sem fungos nem fundos
Gélida parada de estação
Na profundidade estática
Plástica
Do florescer...
Perfumes de olhos guardados
Encarcerados em sobretudos
Não reciclados
Casacos de defuntos silvestres
Assombrando dias curtos
Noites longas de neblinas
Encobrindo bússolas
Abafando canções
Assando sonhos
Como pinhões
Traga-me a nudez da beleza
Contaminando o ar de polens
Em minhas retinas de contrastes
Encharca com tua indecisa umidez
Esta pele ressequida e oleosa
Farta de lãs e flanelas
Eriçada por transparências de seda
Desejosa de toques sutis...

Baco Dionísio, antecipando a primavera, afinal pra que servem os deuses...
04/09/08

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Um dia de cada vez...

Palavras andam
Palavras andam me faltando
Num motim vernáculo ortograficante
Metáforas zumbem em meus ouvidos
Como mosquitos em noites quentes
Tirando o sono e o calmante
Da vigília repousante
Não há o que fazer
O mês está por finalizar
Que leve estes agouros sem gosto
Como a caricatura de um preposto
Que o mosto já fermenta
O mágico transmutar
Ao doce no enigma
Das moléculas de prazer
Sabores escondidos do frio
De um inverno sem cachecol
De muita água de saudade
Que a secura atingiu o paladar
Ocultando os temperos do falar
Deixando a chama semi nua
Como se quisesse apagar
Neste vendaval do imaginário popular
Trêmula como flâmula
Olímpica pirâmide a iluminar
Pálida de focos
Intensa de olhar

Baco Dionísio, ótima noite a todos
27/08/08

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Morena

Oito infinito
Teu desejo afoito
Draga meu medo
Engole meu seco
Encharca meu coito
Quantas vezes de quatro
Muitas febres de luxo
Nesta vontade e refluxo
Nestes sons de tempos
Eu te conheço por dentro
Tu me reviras do avesso
Quando exclamas o gozo
Gira os olhos sem jeito
Reclamas de mais movimento
Sugo com fome teus peitos
Adentro teus profundos pensamentos...

Baco Dionísio
07/08/2008

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Lente

Por entre toda esta poeira
Rasgando o horizonte vertical
De construções espetadas,
O rasgo de visão lunar
Parece refletir os contornos da América
Em suas manchas cítricas,
Drinks de sexta-feira
Nesta realidade seca;
Luneta para a vista da imensidão
Ou buraco de fechadura dos Ets,
Lua Cheia de segredos e rubor
Vem tocar minha lira
Que ela desafina sem você
Na aspereza de um céu cheio de pedras
Que brilham sem iluminar,
Você acende com luz negra
Você me acaricia sem tocar,
Espelho dos meus olhos,
Reflexo da minha visão,
Enxergo toda a galáxia
Sem nebulosa exatidão;
Apareces sobre meu teto,
Brilhas toda minha noite,
Joga teu foco em minhas sombras,
Disfarças meu andar em névoas,
Devolva-me a alegria de voar às cegas...

Baco Dionísio, desejando a todos um ótimo final de semana (desculpem a ausência...)
18/07/08

terça-feira, 15 de julho de 2008

Sete vezes

Não há pecado que não valha a pena
Nem virtude que não se desafie
Nem arte que não desperte a divindade
Nem energia que não ative um dos chakras
No prisma as cores despem-se
Ao som das notas que se repetem
Durante uma semana decantada
No mundo antigo cada dia é uma maravilha...
Vai procurar na Cabalah o que significa
A vitória sobre a morte
E nos escritos sagrados
O Deus dos Exércitos
Anuncia pelos Elementais
Que as taças do Egito
Serão servidas pelo vinho cíclico
Do mágico número

Edman Izipetto
07/07/2008

De baixo para cima

De baixo para cima
Vou te lambuzar
Com minha língua
Vou te refrescar
Subindo pelos pés
Beijando teus joelhos
Por entre tuas pernas
Vou me deter
Até deixá-la lânguida
Sem poder se mexer
Vou beijar teu umbigo
Rodeá-lo de prazer
Mordiscar teus mamilos
Até que fiquem tesos
E encontrar tua boa
Até me perder em você
Sentir teu hálito
De gozo e prazer
Molhada de satisfação
Regada pelo teu macho
Fundida de paixão

Baco Dionísio
04/07/08

terça-feira, 1 de julho de 2008

No meio do ano

No dia primeiro
Deste eterno recomeço
Metade de um caminho
Do qual não sei se conheço
Viajo no destino
Galopo sem endereço
Atrás de nuvens manchadas
De flores sem espinhos
Crepúsculo do semestre
A festejar novos vinhos
Inverno que me deixa quente
Na tua fria forma de carinho
Neblina que sossega os vôos
E silencia o burburinho
Mas que desnuda sem dor
O Sol sem proteção
Do ozônio extinto
Respira-me ar gélido
Nas noites insanas
Sobrevivendo sozinho
Às decisões equivocadas
Aos apelos do instinto
Ainda há meio ano
Já foi metade do ano
Depende do humor desumano
Para eu questionar sem desatino
O que faço deste plano
Que não seja um equilíbrio
Saca-rolhas e cânticos profanos
Baco Dionísio
Grego na tragédia
Alegre como romano

Baco Dionísio, desejando ótima semana a todos
01/07/08

terça-feira, 17 de junho de 2008

Nudez

Levanta este véu
De estrelas ainda ocultas
No xale do horizonte
Tricotado de cores metálicas
Com a purpurina púrpura
E a fuligem do resto do dia...
Vai abraçando meu calor
Deixe as pupilas dilatadas
Que o coração enxerga
Tua brancura sensual
Redonda de detalhes
Entalhes da imaginação
Outro streep no céu
Velhas novas magias
Sombras do teu reflexo
Neste disco convexo
Parabólica de desejos
Palavras em sentido explícito
Nas entre-linhas da paixão
Risca e corta o breu
Em sua luz cheia
Holofote do reverso
Da medalha do jogo
Lente da lupa a mirar
O centro do meu fogo
Não há outro jeito
Vou te cantar
Vou te uivar

Baco Dionísio, desejando a todos uma noite quente de Lua Cheia...
17/06/08

Quinhão

Um punhado de pinhão
Pé-de-moleque e paçoca
Pamonha, curau
Arroz-doce
Queijo com abóbora
Canjica com amendoim
Vinho quente com maçã
Cuzcuz de sardinha
Empadinha de palmito
Pastel de queijo fresco
Espetinho de linguiça
Quentão de gengibre e canela
Para aquecer as noites de junho
Dançar quadrilha
Roupas de flanela xadrezada
Chapéu de palha desfiada
A sanfona dita o ritmo
Mas não tiro os "zóio" da namorada...
Baco Dionísio, olha o rio, olha a cobra...
17/06/08

Vento Sul

O gélido bafo polar
Enegreceu as cores da hortênsia
Deixou-as prontas para o enfeite
De bolas secas de geada
Mas os espinhos da primavera
Revoltados e fortes
Abriram caminho no gelo
Neste orvalho congelado
E salpicou de Monet
Minha janela, este quadro
Abrindo os jasmins amarelos
Pequenos e perfumados.

Baco Dionísio, sob encomenda, delivery...
17/06/08

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Brinde

Entre nós duas taças
Refletindo nosso lume,
Repercutindo sibilante
O que sentimos sem falar;
Entre nós as duas taças
Ampliam nossa visão.
E as mãos que se acariciam
Juntas são um mesmo pêndulo
A correr com o tempo
Atiçando nossa paixão;
Entre nós as duas taças
Vão se completando,
Trocando a transparência
Pelo tinto da existência,
Pelo bouquet de um beijo
Cabernet franc semillion;
Entre as taças
Nossas bocas
Marcam o cristal
Degustam o vinho
E o licor do nosso tesão;
As taças se tocam
Nossos lábios se roçam
Nossos cheiros se trocam
Misturam-se líquidos
Entre tantos desencontros
Brinde a este encontro
De boa safra, de boa cepa.

Baco Dionísio, uma vida inteira para namorar que isto é bom demais...
12/06/08

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Tango Místico

O bandoneon respira
Arfando gemidos
Inspirando por aparelhos;
O violoncelo transpira
Riscando tensões
Instigando sopros alentos;
Nossas pernas trançam
Sem embaraçar
Eu sou, tu és,
Eu vou, tu vais,
Eu volto, tu retornas,
Movimentos doces e ríspidos
Como se fôssemos voar
À beira do abismo
Passos de tato e ritmo
Molejos de tourear
Som de rua
Sombras da rua
Recoleta das 1001 noites
Nossos corpos a serpentear
Portenhos mouros
Liberta as najas de nossos sonhos
Retire as vendas dos olhares tolos
E nos deixe girar sobre nossos pés
Sob o tango dos apaixonados

Baco Dionísio, sobre o vídeo “Libertango”, ótimo final de semana...
30/05/08

sexta-feira, 23 de maio de 2008

Só risos


Risos
Alegria interior de amar
Os olhos não precisam ver
O que eu quero enxergar
Meus lábios se revoltam
Com a secura do ar
Mas os sons de outrora
Dos tempos da aurora
Vão se dissipando ao luar
Na troca de cores do horizonte
Da janela da minha alma
Coberta de algum pó
Manchas que não vou limpar
Mas deixar que o tempo
Lave com suas gotas de vento
O que eu tiver que me livrar
E minha boca
Antes fechada e muda
Sorri agora
Escancarada e nua
Sem medo de se ouvir gargalhar...

Baco Dionisío
23/05/08

sexta-feira, 16 de maio de 2008

Fresta

O vão deixa a luz baça
Delinear um traçado
Caminho de pó
Rota de sol disfarçado
Entreaberta em rasgo
Laser de sentidos
Calor de visão
A fresta transpira
Sua em propulsão
Expelindo a quietude
Marcando o couro
Cicatrizando tatuagens
No seu foco sem lente
Projeta imagens
Limpa minha mente
E os olhos da noite
Semicerrados
Como lua crescente
Expia...

Baco Dionísio, navegando por instrumentos, mas seguindo em frente...ótima noite para todos
15/05/08

Dilata

Dilata
O metal aquece em magenta
Contrai
Nervos tesos em blue
Delata
Ocular testemunha entrega
Trai
No vacilo escorrega e cai
Descarta
Papelada voando rumo ao sul
Traz
Migratórias em busca de amor
Discreta
A gélida sensação se esvai
Esgueira-se
Serpenteia em busca de calor
Recolhe-se
Mastiga o frio como antipasti
Entre a lã e o algodão
Paixão

Baco Dionísio, dia do ócio com tinto, pão rústico e roquefort...
30/04/08

A lágrima do amor

É fértil
Cai no solo seco
Vira um oceano
Escorre pelo colo
É um rio
Nos olhos rasos
É nascente
Na Lua grande
É vertente
Lágrima de dor
Teu sal me alivia
Mancha meu cinza
E me devolve a cor
Lágrima valiosa
Diamante de sentimento
Brilha no teu rosto
Aquece
Evapora o sofrimento.

Baco Dionísio,
24/04/08

Senhora das Pedrarias

Costura seus fios
Metais puxados em pentes
Meandros de origens diferentes
Desfiados e desafiantes
Estirados e tirantes
Engenharia de equilibrar
Arquitetura de adornar
Jardinagem de combinar
Formas de cores
Lâminas de aparar
A geometria dos veios
Gotas petrificadas
Transparências em âmbar
Flores de ágata
Fósseis de enfeitar
Desenhos a contornar
Pescoços, orelhas,
Dedos sem calos
Colos de completar
Contas únicas
Com a luz das pedrarias
Que a Senhora faz brilhar

Baco Dionísio
08/04/08

À mesa

Na frente dos meus olhos
Teu olhar não desvia
Os perfumes gustativos
Acendem o braseiro
O alimento vira combustível
Teu cheiro me alimenta
Uma sede que a água não afugenta
Expressa-se em ebulição
Não queima, mas ardenta
Deixa as faces rubras
Deixa um gosto de pimenta
Nos teus lábios que abrem
E fecham instáveis
São uma tormenta
Teus cabelos a cobrir
Pela metade o rosto febril
Esconde e esquenta
Sabores de amor
Velas de desejos
Toques de carinho
Delícias carícias

Baco Dionísio, ótima noite, ótimo jantar...
03/04/08

Língua

Um gesto verbaliza
O tom de farda germânico
Degusta e temporiza
No francês orgulhoso e urbano
Festeja ao redor da mesa
Numa tarantela de taças e desenganos
No pensamento grego
De quebrar o ritual cerâmico
Das sangrias ibéricas
De bailar entre touros
Da facilidade portuguesa
De conviver com os mouros
Na ilha do horário pontual
O chá encerra as brumas...
Em todas as falas
Nas diversas combinações
De letras e grafismos
A língua passeia
Enrola e serpenteia
Retrai e se expõe
Sempre sabe se expressar
Quando quer dizer amor

Baco Dionísio, uma noite cheia de encantos em todas as línguas e encontros...
02/04/08

Espreita-se

Uma namorada que brilhe de dia
À noite furtiva, roube meu sono de dor,
No calor da fome
Do apetite, do acepipe,
Nos beijos loucos do amor
Sem saber se vai embora
Sem noção se é só na hora
Que me encostas na tua ilação
Que se esgotes de gemidos
Infinitos sem redenção
Que digas meu nome
E outras palavras sem razão

Baco Dionísio
31/03/08

Sob o som de chover

Sob o som de chover
Preguiça espanta e faz mover
Toda secura que pranteia
Toda ressecada que espanta
Algo assim como não-viver...
Sob o som dessa chuva
Deixo os sonhos escorrerem
Traçando caminhos em minha pele
Arrepiando minha derme
Deixando explodir minha verve
Colhendo gotas sujas de limpar
Os poros que ainda hão de suar...

Baco Dionísio, ainda que escorregando nos versos, deseja a todos um ótimo fim de semana
14/03/08

Água que não vem

Água que não vem
Enquanto a chuva ameaça
Deixa as pétalas eriçadas
Na espera de gotas e lágrimas
Tira-me o pó da estrada
Afoga minhas pegadas pesadas
Deixe a lama me proteger
Desses raios de prata
Piso cerâmicas e pedras
Preciosas e lapidadas
Água que não cai na minha pele
Molha meus poros de febre
Aplaca minhas idéias de seguir
Sem apontar estradas
Chuva seca a sugerir
Que minhas flores se bastam
Para recolher ao dormir
Toda a umidade da noite

Baco Dionísio
11/03/08

Vocábulos

Nestas palavras que escrevo
Digo o que queria guardar
Sinais rupestres das minhas retinas
Descobertos pelo acaso das minhas sinas
Talho sílabas no cinzel de teclados
Nem brancas nem pretas
Mas de relevo incrustado
Ativam o projetor das lembranças de leitura
Atiçam a luz das roldanas e catapultas
De engrenagens e células elétricas
Trocando carícias e liquens
Medusas e pólipos no mar da minha cabeça
A viajar em tempestades contraditórias
Da razão que a paixão engole
Ou da paixão que a razão regurgita
Frases inteiras ainda terão de ser ditas
Para que eu mesmo não me esqueça.

Baco Dionísio, ceifando o mato com a lâmina da Lua minguante, boa noite a todos
05/03/08

sexta-feira, 18 de abril de 2008

Na cobertura isolante
Entre o frio e o calmante
Aconchego do próprio calor,
Novelo sem enredo,
Brincadeira de bichano
Tosquiando no enlevo
Sem enrosco, sem engano,
Folheando o tempo
Dedilhando encantos
Nas agulhas de um pano,
Nas agruras de um pranto;
Tecelão sem rendas
Tricotando seus danos,
Sem crochê de enfeite
Sem brioche de leite
No macramé de engodos
A nudez das ovelhas
A esquentar meus sonhos.

Baco Dionísio, ótimo feriado para todos, com frio, queijo e vinho...
18/04/08

Valsa

Minha mão lhe desenha
Desdenha das regras
Deseja enlaçá-la
Sem dizer uma palavra
Nos sinais sem sons
A direita nas suas costas
A esquerda na sua direita
O corpo junto
Contrastes de contornos
Sem delinear
Sem passo linear
Cem passos a voar
Flutuando sob o som
De nossa própria imaginação
No rodopio pelo salão
Do piso de grama
Do perfume araucário
Spot de Lua
Pio de coruja
Violino a vibrar
Lenha a crepitar
Dois pra lá, dois...

Baco Dionísio, convidando a valsar...
15/04/08

quinta-feira, 10 de abril de 2008

Chumaço

O horizonte não tem cor
Por esconder todas as matizes
Nesta colcha acinzentada
Do outono que o recobre
Na manta das temperaturas abafadas
Gritos sussurrados de enfastio
Barométrica pressão desacordada
Crayon gris raspado
Na tríplice lâmina
Respingos de calor e vela sem chama
Passeio de pincel sem diluir
Espátula cremosa
A cimentar um céu vazio
Texturas e relevos de algodão
Sujo da limpeza do rosto do verão
Encardido da fumaça absorvida
Úmida da chuva reprimida
Clara e escura como a desilusão

Baco Dionísio, procurando a aquarela para tirar o cinza da vista!
10/04/08

quinta-feira, 3 de abril de 2008

Tâmaras

São tão mulheres
Na cor bronzeada
Na fina casca
Delicada ao toque
Ao olhar uma carapaça...
Na boca, sem queixume,
É doce ao encontrar os dentes
Azeda enquanto brinca na língua
Ácida para um sabor básico
É fruta carnuda
Quando destila na boca
Seus venenos fêmeos
Sonhos efêmeros

Baco Dionísio, trocando uvas por tâmaras, damascos, figos ...

segunda-feira, 31 de março de 2008

Sol

O que vejo é a silhueta
Da sombra do meio-dia
Tão pequena, concentrada,
Condensada em pouco espaço
Da luz quente a pino
Ereta forma de brilhar
Sem contornos
Uma mancha no chão
Resumo de todo o corpo
Síntese de toda a vida
Um borrão de energia
Contida pelo bloqueador
Dos cremes da existência
Inexistente cor
Reflexo da relativa
Arte de se expor.

Baco Dionísio, fim de semana de escalda pés, chás e outros rituais anti-gripais, mas que tudo passa e que vocês tenham o Sol a lhes beijar
28/03/08

quarta-feira, 19 de março de 2008

Lua Doce

Disco serrilhado
Fatiando as estações
No céu da minha cidade
No imprevisível rodar
No toca-discos de nuvens
Vai em lâminas dividindo
Cada sulco uma dor
Cada ranhura outra cor
Uma queimadura
Outro refrescor
Lua que brinca de esconde
Ainda incompleta
Leva a temperatura, se aquieta
Deixa o frio sem tremer
Acalmar meu dormir
Deixar o amor sorrir
E a vida se permitir
De uma nova estação começar

Baco Dionísio, desejando a todos Páscoa de bourdeaux e Borgonha...
19/03/08

terça-feira, 18 de março de 2008

Jardineiro

Cultivo essências
Nas pontas dos dedos
Digitais das camadas de terra
Que remexo usando mãos como arado
Deixo passar experiências
Por entre os vãos, como grãos
Que escapam das minhas palmas em conchas
Transbordando gota a gota
No toque do relógio das luas
À espera do germinar das sementes
Que antes coloriram tua pele
Perfumaram teu olfato
Seduziram teu olhar
Na forma de uma flor
Não vejo apenas essas cores
Mas as raízes a sulcar o solo
Penetrar nos veios de nervos
Ramificar em desejos
Tirar do sal da terra
O doce da polpa carnuda
Que o Sol transformou ao gozar.

Baco Dionísio, revolvendo o quintal coberto de folhas de cobre
18/03/08

sexta-feira, 7 de março de 2008

Espelho


Espelho, espelho meu
Qual imagem tua me revela nua
Tão bem vestida
Tão bem delineada
Que qualquer mancha ou mancada
Some ao ser retocada
Como num software de computador
Imagem tua convexa
Não queiras fazer uma novela
No tom da cor da nuance do cabelo
Jamais tão claro que não encubra
Nunca tão escuro que não ilumine
Sempre tão liso quando dna de nascimento
Sempre encaracolado quando tão firme ao vento
E porque não gemer
Na sessão semanal de cera quente
Que retira os fios vestígios de animal
Para guardá-los recônditos nos urros e sussurros
Do fogoso desejo de garras a dominar
Nos olhos contornados de carbono 14
Nos lábios sinalizados de vapores de mar
No olhar que atravessa o vidro e o chumbo
Para transmutar em ouro o que te deixas tocar

Baco Dionísio, celebrando todos os dias universais da grande versão humana: a mulher!
Ótimo final de semana
07/03/08

segunda-feira, 3 de março de 2008

Por aí...

Coisas de fazer sem querer
Essas de se ausentar sem partir
De ficar longe a espiar
Expiando uma vontade doida
De quebrar a vidraça
Nesta tela de tungstênio
Cristal líquido ou plasmatrófico
Sair por aí distribuindo cacos
Como relíquias de um passado
Arqueologicamente fundamentado
Na dialética vã sem conteúdo
Sem direção na busca de algum sentido
Sem palavras na regência de um verbo inculto
Nos olhares de um vasto mundo
“Que me cabe neste latifúndio”
Vidas secas a regar de adubo
Novas rimas sem padrão e de subúrbio
Contas de armazém, fiado ou plástico fundo
Batendo as contas e acordando em um segundo
Nos livros vou reencontrando o velho mundo
Que meu braços deixaram de carregar há muito...

Baco Dionísio, acertando detalhes e entalhes, tudo de uma vez e cada qual na sua vez, livrando-se dos cascos e voltando seus olhos para o próprio jardim...
03/03/08

quinta-feira, 21 de fevereiro de 2008

Streep Moon

Velada e nebulosa
Na reta eclíptica
Das histórias de ninar
Aos poucos de veludo rosa
Salpica-se de fantasias
Despe-se da claridade baça
Cobre-se de metal sujo
Quase cheia de si
Na noite de meia-noite
Nuvens passando a sorrir
Seda a deslizar em pele lisa
Como ampulheta a desfazer-se em grãos
Cada tempo é uma curva
A tingir de cobre
O Sol nobre da boemia
Atendendo a pedidos
Aos olhares telescópicos
Embriagados de milímetros
De lentes de grau etílico
Será que a Lua se despe
Ao ficar fora da rota
Ou será que ela se encontra
E nestes instantes é que se veste

Baco Dionísio, ainda sob os efeitos eclipsíticos...e contando o tempo de março chegar...
21/02/08

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008

Triângulo

Na ponta da língua
Não há palavras fáceis
Apenas indica
Tua geometria
Isóceles no teu teorema
De ângulos complementares
E o "pi" da questão
No prazer a deslizar
Sem contas nem fórmulas
Na raiz quadrada
Do infinito profanoSem engano
Na vontade de amar

Baco Dionísio, matematicamente entre linhas...
15/02/08

quarta-feira, 13 de fevereiro de 2008

Banquete

Viajar pelos sabores do amor
Não é pilotar uma chama
Mas deixá-la queimar a deriva
Chamuscar pele e pelos
Tingir de orgasmos todos os veios
Das correntes que seguram os desejos
Não é um prato só
Nem brunch, dinner ou jantar
Gelado, quente ou cozido
Lentamente no banho-maria da indecisão
Ou num fast-food de uma paixão
É um banquete eterno...
Com entradas frias e terrines
Primo pratos divinos
Brodos quentes coloridos
Insalatas e croissants
Pimentas e manjericão
Alcaçuz e açafrão
Para bronzear a degustação
Gritos assados
Gemidos refogados
Prazeres gratinados
Olhares de vapor
Beijos de calda
E o gosto doce acre do amor

Baco Dionísio, na mesa com Madonna...
13/02/08

quinta-feira, 7 de fevereiro de 2008

Serra

Horizontes sem linhas retas
Ondas de verde espetando nuvens
Que sempre choram sua floresta
Lágrimas de rasos pelas veias abertas
Nuas de musgo, encobertas,
Cobrem de vida, encharcam,
Folhas úmidas se abanam
Abalam-se na espera
Água na pedra é seresta
Fumaça de vapor
Véu de mistério
Descerra os morros
Descortina em rendas
Os seios da terra
Caminhos sinuosos
Talhados à mão
Com talento de artesão
Com a fome de um tesão
Esfregam a serra
Gotas de luz
Orvalho e grotão
Escorrega
Brota na cor
De chamar a atenção
Para o olhar que a inveja.

Baco Dionísio, voltando da folia de folhas e magia, boa realidade para todos...
06/02/08

sexta-feira, 1 de fevereiro de 2008

Na passarela dos sonhos

A raça deixa suas gaiolas-residências, equilibradas nas ladeiras da história, e pisa o plano da planície, sob o manto das fantasias que encobrem o que sempre coberto está e deixam ao mundo seus pudores da liberdade de se expressar.
Corpos torneados de escaladas, muitos com latas d´água na cabeça, outros rápidos de fugir de perseguidores (sejam eles oficiais ou não), mas o ritual se sambar se aprende na ginga de desviar das balas perdidas que sempre têm endereço certo.
Espaços alugados para celebridades, pagam os paetês, as plumas de mato e os carros de boi disfarçados de alegorias, tangidos pela fama de aparecer via satélite em HD, tal a procura por câmeras do reallity show que já foi grito de guerra.
Saudades das marchinhas, da chuva de confete e serpentina e quando o lança-perfume era o maior delito que se podia rimar. Mas celebrem porque a quaresma sempre vem depois, com seus jejuns e a pílula do dia depois...

Baco Dionísio, fantasiado de abajur de taça, deseja um carnaval cheio de graça...
01/02/08

quinta-feira, 31 de janeiro de 2008

Sala de espera

Enquanto a hora não chega
A porta teima em provocar o trinco
E na fresta da fechadura
A luz da noite espia minha roupa sem vinco
De tanto sentar e levantar
Como se esse chacoalhar
Fizesse a ampulheta disparar
Enquanto não ouço teus passos
A ritmar pela escada
Nos toques de selva e de alvorada
Meu coração não titubeia, dispara
A antecipar os sons dos teus saltos de gala
Enquanto teu perfume único
Não vem afugentar os cheiros do nada
Minhas narinas relembram a doçura
Que tua pele empresta à essência
Na fixação de um aroma inebriante
Quente de sauna a dilatar
Fresco de água de pedra a rolar
Enquanto tua voz não roça
As campainhas dos meus medos
Acho que fico a escutar
Nos tímpanos do pensamento
Meu nome sendo chamado
Pelo teu cântico palavreado
E tudo isso vale a pena
Não é um tempo que se condena
Na sala de espera
Aguardo você, minha bela...

Baco Dionísio, de mochila nas costas, sandálias fransciscanas, a bússola das estrelas e uma fome de alegria a caminho da natureza...
31/01/2008

Fruta Madura

Há tantas estações
Quantas paradas de trem
Apitos de chamar atenção
Sinos de lembrar alguém
Tempo de colheita
Hora de semear rente ao chão
Flores de voar muito além
Polens ao vento de nevar
Dos morros que sobem e descem
Carinhando pedras de espuma sabão
Cores de pendurar por vinténs
Enfeites de realçar de onde vens
Cheiros cheios de temperos
Matizes de liquens
Ar puro de pintar corpos toscos
Carnes de frutas e gostos
A estalar na boca
Do falso azedo de carambolas
Do sabor oriente de cerejas frescas
Eu tinto de degustar
Em cristais decompor teu paladar
Fermento de lembrar
Ardido de cravo a exalar
A canela da tua pele a gotejar
Suores de prazer e dor
Da força de viver ao redor
Do teu lado neste ano de amar
Velas de acender sem apagar
Essência de energia a iluminar
O doce do teu beijo sem amargar

Edman Izipetto
30/01/08

terça-feira, 29 de janeiro de 2008

Ilha

Pedra encalhada
Na mini-baía de praia pequena
Divide as ondas
Em pororocas e mareias
Como proa
Navega na imaginação
No tombadilho da insolação
Do tato que à pele queima
Pururucas de excesso de calor
Pululam insetos em brotoejas de dor
Que o sal da água saboreia
No horizonte cristas de caudas
Que a febre enxerga e vilipendeia
Aponta e explica, não titubeia
Na cadeira de praia o livro
É o diário de bordo do capitão sem eira
Que enfrenta os mares da beira
Sem rum, sem pernas de pau
Sem gancho ou papagaio perneta
Sua luneta é digital
E não vê, registra e grava,
Traz para o real o que vagueia
Na garganta seca um gole
De água de coco e cheiro de areia.

Baco Dionísio, agradecendo todas as mensagens na ausência, mandando um abraço salgado e um olhar de brasa em fogueira
29/01/08

quarta-feira, 23 de janeiro de 2008

Sem regras

É como se o mundo revirasse
O norte no sul e os pólos no equador
Um vento frio varreu a chuva
Que congelou o verão numa cor
O cinza gris de água turva
Cobriu as pessoas de malha
Teceu nas cabeças gotas de enxágüe
Empurrou flores para fora dos seus galhos
E fez trocar a geladeira pela lareira
Mas no fim das contas
O que riscou nas nuvens
Foi o disco da nudez
Afiado de avidez
Rasgando todas as vestes
Abrindo espaços no celeste
Corpo de fundo e pano estrelado
Mostrando-se linda, redonda,
Cheia Lua veio mudar
Os ventos deste lugar.

Baco Dionísio, saudando a noite anterior de Lua Cheia e desejando noites sem nuvens a vocês...
23/01/08

Dia de chuva

Uma gota basta para entornar
Toda e qualquer parada vulgar:
Da represada colada piña tragada,
Às enchentes em minúsculas ocas e
Encharcadas pegadas de caminhar;
Som de gotas em fila indiana
Deslizando pelos sentidos,
Como se daqui da cama
Todo o céu despencasse num dilúvio,
Na sinfonia das folhas se lavando,
Na intimidade de flores se banhando,
Nos rios temporários do meu corpo
Que a chuva gelada queima e não refresca nada,
Lava a alma de passados impermeáveis,
Manchas antigas sem esfregar,
Suores novos aos poros arejar,
Idéias novas à água fecundar;
Andar na chuva bem devagar
Deixar toda essa benção penetrar,
Despertando do torpor do calor seco,
Que ilude, maltrata e afugenta o vento,
Que traz novos ares e alento...

Baco Dionísio, dançando conforme a música e o tempo (mas sugerindo ao maestro um repertório mais ameno...)
Ótima semana a todos
21/01/08

Sorver

Na cálida boca que solfeja
Sôfrega de ar e líquido
A borda da taça despeja
Todos os sabores que a terra dá
Eles passeiam pelo marfim do sorriso
Encharcam a língua de beliscos taninos
Para evaporar pelos pensamentos
Acender esclarecimentos
Abrir a porta dos desejos
Desvendar os véus e os segredos
Boca linda
Céu de entrada da vida

Baco Dionísio, contra a luz e a favor do vento, muito vento...
ótimo final de semana, mas muito ótimo mesmo
18/01/08

Brincadeira

As nuvens em sua pressa
Estão brincando de pega-pega
São naus de corrida
Seus cascos escuros singram
Limpam o chão do teto
Lustram este piso de concreto
Que brilha e reluz de azul
Outros flocos brancos
Imitam massinhas de modelar
Deixam profundidade e silhuetas,
Cabeças, caricaturas e sombras,
Esculturas e relevos
Expressões de Aleijadinho
Cartoons alegres e sombrios
Escondem o Sol e seus delírios
Opacam a luz em feixes mínimos
Excitando a todo o olhar
Como algodão-doce
Nas diversas cores
Dá água na boca
Deixa sabores
Odores doces de traquinagem
Traz este vento
Leva para longe meus adultos pensamentos
Deixa a criança deitada a olhar...
Deixa a criança sonhar...

Baco Dionísio, com a cabeça nas nuvens, ainda bem... ótima noite de brincadeiras para todos...
17/01/08

Esconde, não esconde

Eu vou, talvez, será...
Cerro as pálpebras
Como criança se não vejo
Estou invisível
A chuva não me encharca
Mas a tela está em gotas
Que palavras belas suam
No soar da minha boca
Repito e volto a ir
Reviro e solto o sorrir
Neste vai e vem
No olhar de canto
No limite do encanto
No infinito da magia
O prazer é nosso
E ao mundo, mais alegria

Baco Dionisio, gostando das tentações...
17/01/08

quarta-feira, 16 de janeiro de 2008

Sem dizer nada

Faltam-me palavras neste momento único
Fogem de mim as metáforas e os arranjos
Da fonética e das imagens lúdicas
Da finesse e da disputa dos anjos
Homônimos disfarçados e por engano
Criados serviçais para o deleite mundano
Mas o que dizer se nada do que escrevo
Bóia no mar ou despenca de um barranco
Apenas agita a superfície do meu olhar urbano
Que procura estrelas pela fumaça dos canos
Ou apenas fixa a pupila em algo estranho
Na busca de enxergar meu próprio humano
No caos das nuvens carregadas de estanho
Nos flashes de energia a fotografar o oceano
Um vulto aparece como num encanto
Para sumir logo depois feito desengano
Na chuva que deságua feito um grande pranto
Lavando minhas palavras e afogando meu canto
No momento único deste grande plano

Baco Dionísio, sóbrio demais para esquecer (o que era mesmo que eu ia dizer?).
16/01/08

sexta-feira, 11 de janeiro de 2008

Amares

Verbo no tempo certo
Correção sintomática das palavras
Lances de xadrez em jogo de squash
O magnetismo deixa de ser invisível
Torna-se imprescindível
Deixa de viajar ao temor do vento
Há mares para descobrir
Águas profundas a mergulhar
Pode-se ficar à beira
Pode-se a vida inteira
Ver outras luzes a luzir
Haver de terra firme
Criar raiz a tal ponto
De nunca mais partir
Há mares a navegar
Vagalhões a rasgar
Ondas de suor e prazer
Carinhos de quebra-mar
Estrela-do-mar a seguir
No céu verde deste encanto
Amares
Que só vem para o bem

Baco Dionísio, de cachimbo no canto da boca, com a mão no timão, tirando a escuna da âncora e partindo para esse mar de sertão, ótimo final de semana para todos
11/01/08

quarta-feira, 9 de janeiro de 2008

Paixão

O ar está quieto
Como que buscando respirar
A cratera do vulcão
Não se manifesta nem fumaça há
O mar está rijo
Como um lago em pleno inverno
E na floresta nem um gemido
Tudo é invisível em mistério
Na geleira a brancura
Da cegueira de congelar
E no céu há só o azul
A tingir de cores vãs...
Uma piscada no tempo
Um olhar de esgueira
Avalanche do gelo
A nudez da montanha
Vapores de nuvens
Condensam-se sobre pós
Eletricidade e faíscas
Tempestades avançam aos nós
Varre tufão, tromba d´água,
Irriga toda esta draga
Tombam troncos eretos,
Deitam flores abertas,
Sem resistência a esta saga
E do mar das vontades
O tsunami explode em vagas
Diminui a distância até o céu
Russa montanha e escalada vertical
Pari um tornado de olho algoz
Rodopia com fome feroz
E no atrito do funil
Solta a fumaça escondida
Emerge a lava contida
Escorre quente
E esculpe a geografia
Calda ventre e fértil corrente
A jorrar pelas dobradas
E vales do cio
Rarefeito ar, perfeito par,
Descansam a força e os elementos,
A natureza retorna à paz...

Baco Dionísio, do olho do furacão viu uma cor diferente...
09/01/08

Amanhecer II

Mas porque deixar de falar de amor
Se o dia já começa a se despir
A mostrar todos seus amores
Despertando desejos e calores
Antes mesmo do gole de café
Amantes se olham
Amantes se fecham
Num cumprimentar sem se despedir
Num levantar sem da cama sair
Num bocejo que é meio beijo
No meio beijo meio começo
Do que do beijo depois há de vir

Baco Dionísio, sem saber se amanhece ou se escurece, mas que o importante é o que acontece...
08/01/08

terça-feira, 8 de janeiro de 2008

Amanhecer

Se eu não falasse de amor...
Do que mais escreveria?
Talvez de um começo de dia,
Onde a névoa cobriu de magia,
Deixou úmida toda a ressaca da noite,
Protegeu as entidades do açoite
De um Sol escaldante e feliz...
Mantas brancas nas partes baixas,
Dos terrenos, das encharcadas,
Reluzem de claridade e verborrágicas
Frases de um despertar sem fim...
Festa de maritacas nos coqueiros,
Cesta de coquinhos dormitentes,
Junto aos passeios de caminhantes
Croquejam semelhantes a salgadinhos chips...
Alguém volta com pão e leite,
O cheiro do quente baguete se espalha,
E como num passe de mágica
A língua sente a manteiga derretida,
A preencher a boca ressequida
A alimentar minha vontade de viver...
E numa casa vizinha
Um café se esgueira pela linha
Do coador a pingar sua sina
De perfumar de cafeína
De um cheiro que nos anima
De um gole que bota pra cima
Este dia que começa a nascer...

Baco Dionísio, amante das coisas simples da vida, mas nem por isso menos celebradas...
08/01/08

Surpresas

Um doce de fina iguaria
Para uma boca que me afeta de fantasia
Mascarpone com trufas de alevosia
Uma fruta rasgada do pé
Para os odores em quem vejo fé
Amoras, framboesas e caju que perfumado é
Um diamante do tamanho do olho
Para um olhar que me abriu o ferrolho
Das pálpebras cerradas do meu sono
Sementes para atrair cantadores alados
Soltos pássaros a inebriar ouvidos amados
Na sinfonia da liberdade de cânticos sagrados
Pétalas de flores diversas
Para o banho dela de água e conservas
Óleos naturais das essências e ervas
Em todos os sentidos
Em todas as surpresas
O amor até então contido
Se revelando sem pressa...

Baco Dionísio, aguçando todos os sentidos, ótimas noites de verão...
07/01/08

sexta-feira, 4 de janeiro de 2008

Carinho

Uma pena de ganso na pele
Um gato se enrolando na sua perna
Uma pedra de gelo no seu colo
Areia morna no seu solo
Colchão de água para teu sono
Camélias abertas para teu perfume
Frestas e arestas para teu conforto
Mesa farta para teu deleite
Jóias raras para teu enfeite
Som de água para tua harmonia
Cores muitas para a fantasia
Banheira de espuma e especiarias
Velas e incensos para teu clima
Um sorriso nos olhos
E olhares de magia
Para a real presença da tua companhia

Baco Dionísio, desejando a todos um ótimo final de semana, com muitas sensações e alegrias
04/01/08

Intimidade

Deitar-se com uma mulher é por vezes grotesco
Assim dito fora das quatro paredes
Como que escancarado na intimidade do regalo
A câmera oculta da cumplicidade fosse devastada
Por espiões desavisados do ato de amar
Não se deita com uma mulher
As reverenciamos e descobrimos
Seus mais secretos desejos e caminhos
Suas vontades de carinhos
Em todas as formas de fazer amor
Não se dorme com uma mulher
A colocamos em nosso peito
Deixamos que adormeça
No abraço que a proteja
No afago que lhe corteja
E dormimos também...
Protegendo e protegidos

Baco Dionisio, concordando que apenas uma mulher é suficiente...
03/01/08

Sob encomenda

Será que é pedir demais
Um sorriso que lhe traga paz
Mesmo que no universo deste encanto
Meu desejo desperte do letárgico espanto
Para a alegoria de um mundo onde me encontro
Será que é demais pedir
Para teu olhar de luz me cobrir
Despindo todo meu corpo da escura névoa
Que deixou minha pele de neve coberta
Que tornou odores de outrora tristonhos
Em perfumes que agora não escondo
Pedir demais será que é
Dizer o que se sente sem medo do que vier
Na certeza do que se quer pedir
Na consciência do que se quer medir
Na métrica de palavras certas ou inversas
Nos mantras de sons exatos ou intervalos
Na dialética do existir na espiral do viver
Na inexplicável conquista da fé
Que me deixou atrair
Sob encomenda
Quem me fez voltar a sorrir

Baco Dionísio, saudando novos ares, novos tempos, e distribuindo a quem quiser partilhar...
03/01/08

Sede

Se você está com sede
Então que este copo transparente
De água de cipó
Desamarre tua boca seca
Lave todo este pó
Que o líquido lhe liquidifique
Este medo que lhe deu um nó
Nas asas dos teus sonhos
Que não precisas correr atrás
Porque neles estás
És autora dos teus sonhos
Não personagem fulgás
Sem correr, sem parar
A sede há de passar
E os cipós que te seguravam
Irão apenas te saciar...

Baco Dionísio, sabendo a hora de beber e a hora da sede matar...
03/01/08

Bom Princípio

Quantas ondas terei que pular
Até que navegue todo este mar
Que se apresenta diante de mim
Que se agiganta diante de nós
Que aceita as barquinhas de flores e pós
Que se perfuma de branco e igapós
Que promete desatar esses nós
Que a gente de tanto circular
E meter os pés pelas mãos
Insiste sem querer em não afrouxar
Quantas sementes terei que guardar
Até que toda a riqueza me venha a calhar
O suficiente para esta vida levar
Sem que a vida me leve de cor
Sem que nada me impeça onde eu for
Sem que nada aborreça meu amor
Quantas frutas ainda a mastigar
Para sementes poder espalhar
Para mandingas simpáticas debulhar
Para rituais novos seculares repetir
Para vitrais colors milhares colorir
E este Sol todo a me despir
Acendendo e mostrando o meu sorrir...

Baco Dionísio, agradecendo as muitas mensagens, pedindo desculpas pela ausência forçada pela tecnologia falha, mas entrando com pé, mão, olho e orelha direitos neste ano fantástico de 2008, desejando a vocês muita “alegria é a melhor coisa que existe...”

Sentidos

Como se visse o que jamais imaginou
Como se escutasse um inaudível som
Como se provasse inesquecível sabor
Como se tocasse na textura do céu
Como se sentisse a mais fina essência
Como se de repente toda a existência
Fosse concentrada naquela flor
Fosse destilada naquele mel
Fosse destinada àquele escultor
Fosse sinfonada naquele tom
Fosse projetada em art noveau
E todos os sentidos fossem poucos
E todas as outras coisas sumissem
E todas as falas roucas desinibissem
E todos os olhares girassem
E todos os ouvidos parabolicalizassem
E todas as epidermes se cumprimentassem
E todos os paladares se fartassem
E o sexto sentido se manifestasse
Depois que tu me beijaste...

Baco Dionísio, mesmo fazendo surf de trenó e jogando com os duendes, dominó, não esquecendo de amar... ótimo fim de tarde, começo de noite, começo da noite, boca da noite...
19/12/07