segunda-feira, 31 de março de 2008

Sol

O que vejo é a silhueta
Da sombra do meio-dia
Tão pequena, concentrada,
Condensada em pouco espaço
Da luz quente a pino
Ereta forma de brilhar
Sem contornos
Uma mancha no chão
Resumo de todo o corpo
Síntese de toda a vida
Um borrão de energia
Contida pelo bloqueador
Dos cremes da existência
Inexistente cor
Reflexo da relativa
Arte de se expor.

Baco Dionísio, fim de semana de escalda pés, chás e outros rituais anti-gripais, mas que tudo passa e que vocês tenham o Sol a lhes beijar
28/03/08

quarta-feira, 19 de março de 2008

Lua Doce

Disco serrilhado
Fatiando as estações
No céu da minha cidade
No imprevisível rodar
No toca-discos de nuvens
Vai em lâminas dividindo
Cada sulco uma dor
Cada ranhura outra cor
Uma queimadura
Outro refrescor
Lua que brinca de esconde
Ainda incompleta
Leva a temperatura, se aquieta
Deixa o frio sem tremer
Acalmar meu dormir
Deixar o amor sorrir
E a vida se permitir
De uma nova estação começar

Baco Dionísio, desejando a todos Páscoa de bourdeaux e Borgonha...
19/03/08

terça-feira, 18 de março de 2008

Jardineiro

Cultivo essências
Nas pontas dos dedos
Digitais das camadas de terra
Que remexo usando mãos como arado
Deixo passar experiências
Por entre os vãos, como grãos
Que escapam das minhas palmas em conchas
Transbordando gota a gota
No toque do relógio das luas
À espera do germinar das sementes
Que antes coloriram tua pele
Perfumaram teu olfato
Seduziram teu olhar
Na forma de uma flor
Não vejo apenas essas cores
Mas as raízes a sulcar o solo
Penetrar nos veios de nervos
Ramificar em desejos
Tirar do sal da terra
O doce da polpa carnuda
Que o Sol transformou ao gozar.

Baco Dionísio, revolvendo o quintal coberto de folhas de cobre
18/03/08

sexta-feira, 7 de março de 2008

Espelho


Espelho, espelho meu
Qual imagem tua me revela nua
Tão bem vestida
Tão bem delineada
Que qualquer mancha ou mancada
Some ao ser retocada
Como num software de computador
Imagem tua convexa
Não queiras fazer uma novela
No tom da cor da nuance do cabelo
Jamais tão claro que não encubra
Nunca tão escuro que não ilumine
Sempre tão liso quando dna de nascimento
Sempre encaracolado quando tão firme ao vento
E porque não gemer
Na sessão semanal de cera quente
Que retira os fios vestígios de animal
Para guardá-los recônditos nos urros e sussurros
Do fogoso desejo de garras a dominar
Nos olhos contornados de carbono 14
Nos lábios sinalizados de vapores de mar
No olhar que atravessa o vidro e o chumbo
Para transmutar em ouro o que te deixas tocar

Baco Dionísio, celebrando todos os dias universais da grande versão humana: a mulher!
Ótimo final de semana
07/03/08

segunda-feira, 3 de março de 2008

Por aí...

Coisas de fazer sem querer
Essas de se ausentar sem partir
De ficar longe a espiar
Expiando uma vontade doida
De quebrar a vidraça
Nesta tela de tungstênio
Cristal líquido ou plasmatrófico
Sair por aí distribuindo cacos
Como relíquias de um passado
Arqueologicamente fundamentado
Na dialética vã sem conteúdo
Sem direção na busca de algum sentido
Sem palavras na regência de um verbo inculto
Nos olhares de um vasto mundo
“Que me cabe neste latifúndio”
Vidas secas a regar de adubo
Novas rimas sem padrão e de subúrbio
Contas de armazém, fiado ou plástico fundo
Batendo as contas e acordando em um segundo
Nos livros vou reencontrando o velho mundo
Que meu braços deixaram de carregar há muito...

Baco Dionísio, acertando detalhes e entalhes, tudo de uma vez e cada qual na sua vez, livrando-se dos cascos e voltando seus olhos para o próprio jardim...
03/03/08