sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Ceia

Mesa de madeira de lei,
Sombreada de árvores replantadas,
Sem começo e sem fim,
Toalha de algodão e rendas de bilro,
Detalhes de metalassê,
Travessas de terracota e
Talheres de prata e madrepérola,
Cristais de diferentes formas;
Aves douradas assadas na brasa,
Espetos improvisados de bambu,
Tomilho e alecrim de molho
Na vinha d’alhos de espera,
Farofa de milho e miúdos,
Castanhas e cerejas de cores,
Que ainda guardam seus licores;
Risoto arbóreo feito no ofurô de brodo,
Deixado de repouso no semilion blanc,
Caldo de ossobuco e peito de frango,
Cozido de véspera no garnie,
Parmigiano picorino romano,
Açafrão da cor do esperanto;
Folhas de endívias e radicci no azeite virgem,
Legumes na neve maionese,
Estacas de cenoura, aipo e nabo
No gelo quente do aguardo,
Cestas de tomates e rabanetes,
Ameixas de cores diferentes,
Damasco no queijo brie,
Figos secos e passas sem sementes,
Cuscuz agridoce e sem corantes,
Empadas de aspargos e molho doce,
Patês roxos, verdes e de alho-poró;
Espumantes brancos e roses,
Bordeuax, riscal e denominação controlada,
Maçã de tortas, tiramizu de trufas,
Muitos vidros de compotas,
Velas acesas e almas lavadas,
Incensos de mirra e lavanda,
Água pura de bica de pedra,
Uma estrela em cada lembrança,
Viva a celebração do nascimento...

Baco Dionísio, seu anfitrião, deseja a todos ótimos momentos de paixão...
20/12/07

Balançando no calendário

O ano de 2007 é um divisor de águas na minha vida. Nas minhas biografias farei questão de dizer Antes e Depois deste ano, como se até então eu vagasse pelo deserto buscando encontrar a duna que não mudasse com o tempo, ou uma bica de água que saciasse minha sede eterna pelas experiências. Foi um ano apaixonante para mim e algo – intuição, gratidão ou paixão mesmo – me pede para escrever.
Ficar escrevendo histórias não é o caso, mas tenho que dizer que vocês fazem parte dela, cada um no seu papel, na sua importância e relevância para meu autoconhecimento. Baco nasceu de uma grande decepção, para alguém que leva os sentimentos a sério, tinha tudo para ser alguém para desabafar as mágoas, as lágrimas e as manguaças das desaventuranças e descaminhos que nos pegam de surpresa, mas ele virou o jogo e mostrou uma face que, o próprio autor não imaginava ter: Celebração da vida!
E isto só aconteceu porque Baco teve eco, teve ouvidos e, principalmente, o carinho de vocês, cada um à sua maneira, mas sempre intensa para mim.
Muito mais que Feliz Natal e Ano Novo, quero uma vida plena para vocês...
Baco Dionísio vai tomar uma taça para cada amigo e seja o que Zeus quiser...
2007/2008

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Natal dos Afogados

Natal,
Não tem igual,
Ceia pra lá de Peru
Espumante, panetone e avelã
E dia seguinte vem a febre terçã;
Antes disso
Aquelas musiquinhas,
Trim Titrim titrititrim
Clec cleclec
Pim pam pum Pim pam pum
Ho Ho Ho
Filas, engarrafamento,
Pacotes e pisca-pisca,
Contrabando ou financiamento?
Parentes, malas e sacolas,
Sacolas, saco las
Rabanadas, frutas secas
Frutas cristalizadas
E sal de frutas,
Sogras juntas:
Línguas passas,
Muitas folhas de boldo,
Frutas de época, emboloradas,
Importadas de Belém do Pará,
E aquele pavê,
Feito com não sei o quê,
Comeu é só correr,
Sentar no trono
Feito Noel
Hu Hu Hu!

Baco Dionisio, espectador das neuroses ritualísticas, tirando o maior pelo do lombo mesmo...
18/12/07

Afago

Água transparente
Na poça de pedras creme
Reflete meus olhos carentes
De enxergar além da epiderme
Da lâmina d’água parada
Dos círculos de um pólen boiando
Da vida escondida neste tanto
De universo represado e insano
Que meus olhos molhados vêm sem pano.
Faço concha com as mãos
Perturbo a calmaria e o tempo bom
Colho pedaços de espelho
E a vida escorre pelos vãos
Mas há gotas de universo
Na umidade retida no tempo
Nos calos que riscaram o vento
Nas rugas que afagaram meu jeito
Na água que lambeu minha face
E voltou das pedras creme à poça.

Baco Dionísio, dançando na chuva, pisando nas poças, festejando à vida...
17/12/07

Vinho & Poesia

Muito lhe agradeço seu apreço
Carinhos, atenção e rimas com paixão
Mas como deus do vinho preciso
E não quero parecer restrito
A velhas fórmulas de comemoração
Seguir regras não é muita minha vocação
Mas se na lira havia alegria
Nesta boca não entra ambrosia
Que ao vinho mataria
Mas quem sabe no final
Após uma água mineral
A dois se degustasse doce iguaria
De colheradas, cada qual servindo ao outro
Como filhotes de aves de rapina
Como crianças na primeira fila
Do picadeiro desta folia

Baco Dionísio, súdito da noite...
17/12/07

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Toalha de Linho

No tecido cru
Estendido na varanda
Entre sombras e segredos
Olhares de novelo
Trago com todo o zelo
Pedaços de alimento
Fatias de sonho e sentimento
Patês de sabores ao vento
Vinhos de odores sem par
Para os sentidos agradar
A quem eu desejo amar.

Baco Dionísio, noite de celebrar, noite, há noite, noite...
13/12/07

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Garoa

Nesta terra intempestiva
À porta do verão e da época festiva,
Momento de acordo com recolhimento,
Um barulho de chuva sem água,
Gotas de choro sem lágrima,
Mas nada de melancolia,
Nada de ficar à toa...
Mas de buscar a melhor rima,
Já que meu coração encheu-se de alegria,
Por ver-se novamente ocupado,
Já estava ficando com cara de culpado,
Já estava a desandar disritmia,
Batendo um som nada tocado,
Acompanhando o silêncio sem harmonia;
Chegou como uma garoa
Quer delicada te abraça e acaricia,
Não te arrasta, mas te delicia,
E quando menos se espera
Encharcado estás desta feitiçaria...

Baco Dionísio, renovando adega, livros e, principalmente, emoções, boa semana a todos...
12/12/07

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Prece

Esta manhã é especial
Porque estou aqui,
Posso sentir este calor sideral
Como prêmio de tudo que vivi,
Posso ouvir um canto diferente,
Pois todo dia já nasce inocente,
Mesmo com a vida latente
Lembrando o que não é mais presente;
Agradeço a primeira água
Como quem quer saciar o saber,
Agradeço a primeira fala
Como quem não tem o que dizer;
Vejo com os olhos da mente,
O quanto ainda falta enxergar;
Faço as cores do poente
Mesmo antes do sol raiar,
Quero neste minuto crescente,
Toda a energia do mar,Deixo todo este sentimento nascente
À toda alegria de amar

Baco Dionísio, agradecendo ao Pai tudo o que sente e desejando a todos muita paz presente
06/12/07

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Toque

A ponta dos dedos
A película da pele
Onde terminam os nervos
Onde começam as febres
Encostas e gostas
Desliza
Escorregas
Flutua
Na carne nua
Castigas
Esfregas
Cultua
Desejos de poros
Encontro de colos
Troca de solos
Toca de pelos
Beijos e selos
Eriças
Roças
Desejos

Baco Dionísio, uma noite caliente para todos
05/12/07

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Pedra Filosofal

A busca de uma existência,
A fórmula da sobrevivência,
Vidas deixadas ao largo
Por tantas experiências;
Um gosto na boca do amargo,
Por não encontrar a essência,
De transformar um bastardo,
Na fina flor do trato e decência;
A matemática não meu deu parábolas,
A filosofia não me resolveu metáforas,
A história me cobriu de lendas,
E a ciência me cobrou suas prendas...
Mas na poesia, as palavras,
Vestidas de terno e gravata,
Ou despojadas de jeans e sandálias,
Transformaram todos os metais
No brilho mais dourado dos mortais,
E qualquer rocha basáltica
Na preciosa pedra exótica;
A minha filosofal encontrei,
Entre seixos, já na foz do meu rio,
Lisa das lambidas doces,
Esculpida dos salgados carinhos,
Sem expressões de dor,
Mas nos veios o seu caminho,
No seu jeito o meu destino,
Em rupreste relevo: amor!

Baco Dionísio, celebrando sentimentos, muito bons por sinal dos tempos...
04/12/07

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Despertar

Espero ver os sons
Que o emaranhado da bouganville,
Espinhos voltados aos cardeais,
Deixaram-me de brinde:
Três gerações de minúsculos
Peito-amarelo e bico de beija-flor,
A piarem e provocarem,
Excitarem as flores:
Hibiscos e alandras
Numa festa de amanhecer;
As lágrimas-de-Cristo
Deságuam sobre o portal,
Primeiro as brancas
De corpetes vermelhos,
Depois as rubras
De conteúdo vinho;
Os trevos rebentaram,
Submergiram da terra
Nas suas quatro pétalas
E sinos de licores arandelas;
E acima da normalidade
A imperial balança suas folhas
Como uma bacante
A abanar suas grandes penas
Não sei se a saudar o dia que chega
Ou se despedir na noite extrema

Baco Dionísio, agradecendo as mensagens e desejando a todos um despertar para a vida...
03/12/07

Sonhos

Na vitrine da padaria
A atendente morena
Lenço na cabeça
Brincos de argola
Interpreta sonhos
Transforma marzipãs
Em moedas de ouro
Que escorrem pela rua
Uma correnteza de água-de-coco
A carregar máquinas
Caça-níqueis e de refrigerantes
Os pães filões viram canoas
As baguettes viram remos
Há gelatinas de bóias
Âncoras de fatias de pizza
Cafés e leites se misturam
Chope e vinho se coadunam
Gelados doces
Quentes salgados
E o creme amarelo do sonho
Lembra-me que estou acordado

Baco Dionisio, ótimo final de semana a todos
30/11/07