quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Sob lençóis

Teu contorno é um horizonte
Que se move como dunas
A cada sopro
O lençol escorre
Enrruga em reentrâncias
Geme em demências
Insano em coerências
Sua em oferendas
Largadas em lagos de prazer;
Na rigidez do desejo
Os extremos pedem mais
O vento revira a superfície
Enxuga os poros
Com algodão egípcio
Para a vazante do Nilo
Na sua foz encharcar.

Baco Dionísio
16/09/2011

sábado, 13 de agosto de 2011

Obliviun

Os passos vão caminhar,
As solas marcando o terreno,

No toque do assoalho,

Até o casal se encontrar

Sem o físico esbarrar;

Miram-se de baixo acima,

Até cruzarem o olhar:

Os olhos se fundem,

As pupilas se abraçam,

As mãos se entrelaçam

Num tango devagar;

Giram em pêndulo,

Corpos flexíveis esticados,

Equilibrados no ar;

Desviam seus rostos,

Fingindo não se notar,

Afastam-se desenrolando

Até os nós dos dedos

Não desamarrar...

E voltam num elástico

Sem mais espaço os separar;

É um só corpo

Rodopiando a marcha,

Sem desviar a face,

Com um sensual dançar;

Num suspiro sem respirar,

Como à beira do abismo

Sem poder voar,

Como um resgate

Sem poder salvar,

Como um beijo

Sem mais nada importar.

Baco Dionisio
10/07/2011

quarta-feira, 22 de junho de 2011

Prisma

O sopro do desejo
Silueta o cristal
Incandescente
O frio o transforma
Em taças de vento
A gemer sons de órgão
Que volta à erupção
Quando o tinto lhe preenche
Decanta a rubra cor
Exala o fino bouquet
Traz o gosto selvagem
Das florestas impenetráveis
Repletas de trilhas
Fogosas de festas
Vistas por arestas
Do vinho a escorrer
Pelas paredes do prazer

Baco Dionísio
22/06/2044

quarta-feira, 2 de dezembro de 2009

Ardente



Após ficar guardado, maturando


Eis que chega o momento


Do espocar da rolha


De liberar o aroma


De espalhar o bouquet


Derramar meu líquido sagrado


Pelas paredes transparentes


Tingindo-as com a cor da paixão


Rubra de emoção


Tinta de desejo


Agreste de sabor


Vou preenchendo o espaço


Com meu sangue fértil


Com meu lirismo ébrio


Com meu amor frenético


Com todos os sabores da terra


Aos sons guturais de satisfação




Baco Dionísio


03/12/2009


Despertando do sono involuntário


sexta-feira, 17 de abril de 2009

Outonal

Folhas enrugadas e vividas
Flutuam no seu último vôo
Agrupam-se em finais
Sinais de renovação
Na nudez de galhos vivos
Agitam-se ante o vento frio
Saudando ou aquecendo-se
Despedindo e despindo-se
Da chuva quente da estação
Deixando o tapete crocante
Da transformação
De um ano intenso de clorofila
De uma embriaguês de néctar
Das farras de borboletas e colibris
Para dar luz aos frutos
Para dar vez às sementes.

Baco Dionísio
17/04/09

segunda-feira, 10 de novembro de 2008

Celebração

A taça é levantada
Assim a favor da luz
Da brisa e aromas azuis
Sua de excitação
No choque de líquidos
Fluídos, bolhas de vida
Histórias encerradas
No enredo
E que ainda estão por vir
Cores febris
Do dourado ao púrpura
Cumprimenta ao palato
Acaricia o afago
Liberta palavras sutis
Gotas escorrem e desenham
Grafitam na transparência
Encerram capítulos
Abrem parágrafos
Cantam no cristal
Coros dos desafogados
Ópera dos afortunados
Celebrando mais um ano feliz!

Baco Dionísio, agradecendo e retribuindo seus desejos
10/11/2008

sexta-feira, 17 de outubro de 2008

É dez ou são dez?



No sentido das coisas
Nem sempre há concordância
Regras, sabê-las de cor
Para quebrá-las decoradas
Mesoclisando todos os artigos
Te amo ou amo-te?
Escrevendo ou falando
Desafios sempre os há
Sorrir por dentro
Gargalhar por fora
Ser feliz com a tez tensa
Distender sem perder o tesão
Te encontrar para me encontrar

Baco Dionísio
07/10/08

São dez

Duas vezes cinco sentidos
Todos os sentidos
Antenados
Parabólicos
Escancarados
Pela haste
Da varinha de condão
Tocando sinos
Derrubando polens
Para sair do chão

Baco Dionísio
07/10/08

quarta-feira, 17 de setembro de 2008

O que é o amor?

Ele se define
Pela própria indefinição
É um gostar sem razão
Sem buscar explicação
É a falta de ar
Com todo o gás do mundo
É a vontade de acordar
Mesmo no sono profundo
É o ressuscitar
Do poeta moribundo
É o encontro do mar
Com o doce rio inundo
É sentir no paladar
O desejo do outro a fundo

Baco Dionísio
17/09/08

quinta-feira, 4 de setembro de 2008

Setembro

Derrete
Esquenta com tuas cores
Este clima de bolores
Horrores climáticos
Sem fungos nem fundos
Gélida parada de estação
Na profundidade estática
Plástica
Do florescer...
Perfumes de olhos guardados
Encarcerados em sobretudos
Não reciclados
Casacos de defuntos silvestres
Assombrando dias curtos
Noites longas de neblinas
Encobrindo bússolas
Abafando canções
Assando sonhos
Como pinhões
Traga-me a nudez da beleza
Contaminando o ar de polens
Em minhas retinas de contrastes
Encharca com tua indecisa umidez
Esta pele ressequida e oleosa
Farta de lãs e flanelas
Eriçada por transparências de seda
Desejosa de toques sutis...

Baco Dionísio, antecipando a primavera, afinal pra que servem os deuses...
04/09/08

quinta-feira, 28 de agosto de 2008

Um dia de cada vez...

Palavras andam
Palavras andam me faltando
Num motim vernáculo ortograficante
Metáforas zumbem em meus ouvidos
Como mosquitos em noites quentes
Tirando o sono e o calmante
Da vigília repousante
Não há o que fazer
O mês está por finalizar
Que leve estes agouros sem gosto
Como a caricatura de um preposto
Que o mosto já fermenta
O mágico transmutar
Ao doce no enigma
Das moléculas de prazer
Sabores escondidos do frio
De um inverno sem cachecol
De muita água de saudade
Que a secura atingiu o paladar
Ocultando os temperos do falar
Deixando a chama semi nua
Como se quisesse apagar
Neste vendaval do imaginário popular
Trêmula como flâmula
Olímpica pirâmide a iluminar
Pálida de focos
Intensa de olhar

Baco Dionísio, ótima noite a todos
27/08/08

terça-feira, 12 de agosto de 2008

Morena

Oito infinito
Teu desejo afoito
Draga meu medo
Engole meu seco
Encharca meu coito
Quantas vezes de quatro
Muitas febres de luxo
Nesta vontade e refluxo
Nestes sons de tempos
Eu te conheço por dentro
Tu me reviras do avesso
Quando exclamas o gozo
Gira os olhos sem jeito
Reclamas de mais movimento
Sugo com fome teus peitos
Adentro teus profundos pensamentos...

Baco Dionísio
07/08/2008

quinta-feira, 31 de julho de 2008

Lente

Por entre toda esta poeira
Rasgando o horizonte vertical
De construções espetadas,
O rasgo de visão lunar
Parece refletir os contornos da América
Em suas manchas cítricas,
Drinks de sexta-feira
Nesta realidade seca;
Luneta para a vista da imensidão
Ou buraco de fechadura dos Ets,
Lua Cheia de segredos e rubor
Vem tocar minha lira
Que ela desafina sem você
Na aspereza de um céu cheio de pedras
Que brilham sem iluminar,
Você acende com luz negra
Você me acaricia sem tocar,
Espelho dos meus olhos,
Reflexo da minha visão,
Enxergo toda a galáxia
Sem nebulosa exatidão;
Apareces sobre meu teto,
Brilhas toda minha noite,
Joga teu foco em minhas sombras,
Disfarças meu andar em névoas,
Devolva-me a alegria de voar às cegas...

Baco Dionísio, desejando a todos um ótimo final de semana (desculpem a ausência...)
18/07/08

terça-feira, 15 de julho de 2008

Sete vezes

Não há pecado que não valha a pena
Nem virtude que não se desafie
Nem arte que não desperte a divindade
Nem energia que não ative um dos chakras
No prisma as cores despem-se
Ao som das notas que se repetem
Durante uma semana decantada
No mundo antigo cada dia é uma maravilha...
Vai procurar na Cabalah o que significa
A vitória sobre a morte
E nos escritos sagrados
O Deus dos Exércitos
Anuncia pelos Elementais
Que as taças do Egito
Serão servidas pelo vinho cíclico
Do mágico número

Edman Izipetto
07/07/2008

De baixo para cima

De baixo para cima
Vou te lambuzar
Com minha língua
Vou te refrescar
Subindo pelos pés
Beijando teus joelhos
Por entre tuas pernas
Vou me deter
Até deixá-la lânguida
Sem poder se mexer
Vou beijar teu umbigo
Rodeá-lo de prazer
Mordiscar teus mamilos
Até que fiquem tesos
E encontrar tua boa
Até me perder em você
Sentir teu hálito
De gozo e prazer
Molhada de satisfação
Regada pelo teu macho
Fundida de paixão

Baco Dionísio
04/07/08

terça-feira, 1 de julho de 2008

No meio do ano

No dia primeiro
Deste eterno recomeço
Metade de um caminho
Do qual não sei se conheço
Viajo no destino
Galopo sem endereço
Atrás de nuvens manchadas
De flores sem espinhos
Crepúsculo do semestre
A festejar novos vinhos
Inverno que me deixa quente
Na tua fria forma de carinho
Neblina que sossega os vôos
E silencia o burburinho
Mas que desnuda sem dor
O Sol sem proteção
Do ozônio extinto
Respira-me ar gélido
Nas noites insanas
Sobrevivendo sozinho
Às decisões equivocadas
Aos apelos do instinto
Ainda há meio ano
Já foi metade do ano
Depende do humor desumano
Para eu questionar sem desatino
O que faço deste plano
Que não seja um equilíbrio
Saca-rolhas e cânticos profanos
Baco Dionísio
Grego na tragédia
Alegre como romano

Baco Dionísio, desejando ótima semana a todos
01/07/08

terça-feira, 17 de junho de 2008

Nudez

Levanta este véu
De estrelas ainda ocultas
No xale do horizonte
Tricotado de cores metálicas
Com a purpurina púrpura
E a fuligem do resto do dia...
Vai abraçando meu calor
Deixe as pupilas dilatadas
Que o coração enxerga
Tua brancura sensual
Redonda de detalhes
Entalhes da imaginação
Outro streep no céu
Velhas novas magias
Sombras do teu reflexo
Neste disco convexo
Parabólica de desejos
Palavras em sentido explícito
Nas entre-linhas da paixão
Risca e corta o breu
Em sua luz cheia
Holofote do reverso
Da medalha do jogo
Lente da lupa a mirar
O centro do meu fogo
Não há outro jeito
Vou te cantar
Vou te uivar

Baco Dionísio, desejando a todos uma noite quente de Lua Cheia...
17/06/08

Quinhão

Um punhado de pinhão
Pé-de-moleque e paçoca
Pamonha, curau
Arroz-doce
Queijo com abóbora
Canjica com amendoim
Vinho quente com maçã
Cuzcuz de sardinha
Empadinha de palmito
Pastel de queijo fresco
Espetinho de linguiça
Quentão de gengibre e canela
Para aquecer as noites de junho
Dançar quadrilha
Roupas de flanela xadrezada
Chapéu de palha desfiada
A sanfona dita o ritmo
Mas não tiro os "zóio" da namorada...
Baco Dionísio, olha o rio, olha a cobra...
17/06/08

Vento Sul

O gélido bafo polar
Enegreceu as cores da hortênsia
Deixou-as prontas para o enfeite
De bolas secas de geada
Mas os espinhos da primavera
Revoltados e fortes
Abriram caminho no gelo
Neste orvalho congelado
E salpicou de Monet
Minha janela, este quadro
Abrindo os jasmins amarelos
Pequenos e perfumados.

Baco Dionísio, sob encomenda, delivery...
17/06/08

quinta-feira, 12 de junho de 2008

Brinde

Entre nós duas taças
Refletindo nosso lume,
Repercutindo sibilante
O que sentimos sem falar;
Entre nós as duas taças
Ampliam nossa visão.
E as mãos que se acariciam
Juntas são um mesmo pêndulo
A correr com o tempo
Atiçando nossa paixão;
Entre nós as duas taças
Vão se completando,
Trocando a transparência
Pelo tinto da existência,
Pelo bouquet de um beijo
Cabernet franc semillion;
Entre as taças
Nossas bocas
Marcam o cristal
Degustam o vinho
E o licor do nosso tesão;
As taças se tocam
Nossos lábios se roçam
Nossos cheiros se trocam
Misturam-se líquidos
Entre tantos desencontros
Brinde a este encontro
De boa safra, de boa cepa.

Baco Dionísio, uma vida inteira para namorar que isto é bom demais...
12/06/08

sexta-feira, 30 de maio de 2008

Tango Místico

O bandoneon respira
Arfando gemidos
Inspirando por aparelhos;
O violoncelo transpira
Riscando tensões
Instigando sopros alentos;
Nossas pernas trançam
Sem embaraçar
Eu sou, tu és,
Eu vou, tu vais,
Eu volto, tu retornas,
Movimentos doces e ríspidos
Como se fôssemos voar
À beira do abismo
Passos de tato e ritmo
Molejos de tourear
Som de rua
Sombras da rua
Recoleta das 1001 noites
Nossos corpos a serpentear
Portenhos mouros
Liberta as najas de nossos sonhos
Retire as vendas dos olhares tolos
E nos deixe girar sobre nossos pés
Sob o tango dos apaixonados

Baco Dionísio, sobre o vídeo “Libertango”, ótimo final de semana...
30/05/08