sexta-feira, 21 de dezembro de 2007

Ceia

Mesa de madeira de lei,
Sombreada de árvores replantadas,
Sem começo e sem fim,
Toalha de algodão e rendas de bilro,
Detalhes de metalassê,
Travessas de terracota e
Talheres de prata e madrepérola,
Cristais de diferentes formas;
Aves douradas assadas na brasa,
Espetos improvisados de bambu,
Tomilho e alecrim de molho
Na vinha d’alhos de espera,
Farofa de milho e miúdos,
Castanhas e cerejas de cores,
Que ainda guardam seus licores;
Risoto arbóreo feito no ofurô de brodo,
Deixado de repouso no semilion blanc,
Caldo de ossobuco e peito de frango,
Cozido de véspera no garnie,
Parmigiano picorino romano,
Açafrão da cor do esperanto;
Folhas de endívias e radicci no azeite virgem,
Legumes na neve maionese,
Estacas de cenoura, aipo e nabo
No gelo quente do aguardo,
Cestas de tomates e rabanetes,
Ameixas de cores diferentes,
Damasco no queijo brie,
Figos secos e passas sem sementes,
Cuscuz agridoce e sem corantes,
Empadas de aspargos e molho doce,
Patês roxos, verdes e de alho-poró;
Espumantes brancos e roses,
Bordeuax, riscal e denominação controlada,
Maçã de tortas, tiramizu de trufas,
Muitos vidros de compotas,
Velas acesas e almas lavadas,
Incensos de mirra e lavanda,
Água pura de bica de pedra,
Uma estrela em cada lembrança,
Viva a celebração do nascimento...

Baco Dionísio, seu anfitrião, deseja a todos ótimos momentos de paixão...
20/12/07

Balançando no calendário

O ano de 2007 é um divisor de águas na minha vida. Nas minhas biografias farei questão de dizer Antes e Depois deste ano, como se até então eu vagasse pelo deserto buscando encontrar a duna que não mudasse com o tempo, ou uma bica de água que saciasse minha sede eterna pelas experiências. Foi um ano apaixonante para mim e algo – intuição, gratidão ou paixão mesmo – me pede para escrever.
Ficar escrevendo histórias não é o caso, mas tenho que dizer que vocês fazem parte dela, cada um no seu papel, na sua importância e relevância para meu autoconhecimento. Baco nasceu de uma grande decepção, para alguém que leva os sentimentos a sério, tinha tudo para ser alguém para desabafar as mágoas, as lágrimas e as manguaças das desaventuranças e descaminhos que nos pegam de surpresa, mas ele virou o jogo e mostrou uma face que, o próprio autor não imaginava ter: Celebração da vida!
E isto só aconteceu porque Baco teve eco, teve ouvidos e, principalmente, o carinho de vocês, cada um à sua maneira, mas sempre intensa para mim.
Muito mais que Feliz Natal e Ano Novo, quero uma vida plena para vocês...
Baco Dionísio vai tomar uma taça para cada amigo e seja o que Zeus quiser...
2007/2008

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

Natal dos Afogados

Natal,
Não tem igual,
Ceia pra lá de Peru
Espumante, panetone e avelã
E dia seguinte vem a febre terçã;
Antes disso
Aquelas musiquinhas,
Trim Titrim titrititrim
Clec cleclec
Pim pam pum Pim pam pum
Ho Ho Ho
Filas, engarrafamento,
Pacotes e pisca-pisca,
Contrabando ou financiamento?
Parentes, malas e sacolas,
Sacolas, saco las
Rabanadas, frutas secas
Frutas cristalizadas
E sal de frutas,
Sogras juntas:
Línguas passas,
Muitas folhas de boldo,
Frutas de época, emboloradas,
Importadas de Belém do Pará,
E aquele pavê,
Feito com não sei o quê,
Comeu é só correr,
Sentar no trono
Feito Noel
Hu Hu Hu!

Baco Dionisio, espectador das neuroses ritualísticas, tirando o maior pelo do lombo mesmo...
18/12/07

Afago

Água transparente
Na poça de pedras creme
Reflete meus olhos carentes
De enxergar além da epiderme
Da lâmina d’água parada
Dos círculos de um pólen boiando
Da vida escondida neste tanto
De universo represado e insano
Que meus olhos molhados vêm sem pano.
Faço concha com as mãos
Perturbo a calmaria e o tempo bom
Colho pedaços de espelho
E a vida escorre pelos vãos
Mas há gotas de universo
Na umidade retida no tempo
Nos calos que riscaram o vento
Nas rugas que afagaram meu jeito
Na água que lambeu minha face
E voltou das pedras creme à poça.

Baco Dionísio, dançando na chuva, pisando nas poças, festejando à vida...
17/12/07

Vinho & Poesia

Muito lhe agradeço seu apreço
Carinhos, atenção e rimas com paixão
Mas como deus do vinho preciso
E não quero parecer restrito
A velhas fórmulas de comemoração
Seguir regras não é muita minha vocação
Mas se na lira havia alegria
Nesta boca não entra ambrosia
Que ao vinho mataria
Mas quem sabe no final
Após uma água mineral
A dois se degustasse doce iguaria
De colheradas, cada qual servindo ao outro
Como filhotes de aves de rapina
Como crianças na primeira fila
Do picadeiro desta folia

Baco Dionísio, súdito da noite...
17/12/07

sexta-feira, 14 de dezembro de 2007

Toalha de Linho

No tecido cru
Estendido na varanda
Entre sombras e segredos
Olhares de novelo
Trago com todo o zelo
Pedaços de alimento
Fatias de sonho e sentimento
Patês de sabores ao vento
Vinhos de odores sem par
Para os sentidos agradar
A quem eu desejo amar.

Baco Dionísio, noite de celebrar, noite, há noite, noite...
13/12/07

quarta-feira, 12 de dezembro de 2007

Garoa

Nesta terra intempestiva
À porta do verão e da época festiva,
Momento de acordo com recolhimento,
Um barulho de chuva sem água,
Gotas de choro sem lágrima,
Mas nada de melancolia,
Nada de ficar à toa...
Mas de buscar a melhor rima,
Já que meu coração encheu-se de alegria,
Por ver-se novamente ocupado,
Já estava ficando com cara de culpado,
Já estava a desandar disritmia,
Batendo um som nada tocado,
Acompanhando o silêncio sem harmonia;
Chegou como uma garoa
Quer delicada te abraça e acaricia,
Não te arrasta, mas te delicia,
E quando menos se espera
Encharcado estás desta feitiçaria...

Baco Dionísio, renovando adega, livros e, principalmente, emoções, boa semana a todos...
12/12/07

quinta-feira, 6 de dezembro de 2007

Prece

Esta manhã é especial
Porque estou aqui,
Posso sentir este calor sideral
Como prêmio de tudo que vivi,
Posso ouvir um canto diferente,
Pois todo dia já nasce inocente,
Mesmo com a vida latente
Lembrando o que não é mais presente;
Agradeço a primeira água
Como quem quer saciar o saber,
Agradeço a primeira fala
Como quem não tem o que dizer;
Vejo com os olhos da mente,
O quanto ainda falta enxergar;
Faço as cores do poente
Mesmo antes do sol raiar,
Quero neste minuto crescente,
Toda a energia do mar,Deixo todo este sentimento nascente
À toda alegria de amar

Baco Dionísio, agradecendo ao Pai tudo o que sente e desejando a todos muita paz presente
06/12/07

quarta-feira, 5 de dezembro de 2007

Toque

A ponta dos dedos
A película da pele
Onde terminam os nervos
Onde começam as febres
Encostas e gostas
Desliza
Escorregas
Flutua
Na carne nua
Castigas
Esfregas
Cultua
Desejos de poros
Encontro de colos
Troca de solos
Toca de pelos
Beijos e selos
Eriças
Roças
Desejos

Baco Dionísio, uma noite caliente para todos
05/12/07

terça-feira, 4 de dezembro de 2007

Pedra Filosofal

A busca de uma existência,
A fórmula da sobrevivência,
Vidas deixadas ao largo
Por tantas experiências;
Um gosto na boca do amargo,
Por não encontrar a essência,
De transformar um bastardo,
Na fina flor do trato e decência;
A matemática não meu deu parábolas,
A filosofia não me resolveu metáforas,
A história me cobriu de lendas,
E a ciência me cobrou suas prendas...
Mas na poesia, as palavras,
Vestidas de terno e gravata,
Ou despojadas de jeans e sandálias,
Transformaram todos os metais
No brilho mais dourado dos mortais,
E qualquer rocha basáltica
Na preciosa pedra exótica;
A minha filosofal encontrei,
Entre seixos, já na foz do meu rio,
Lisa das lambidas doces,
Esculpida dos salgados carinhos,
Sem expressões de dor,
Mas nos veios o seu caminho,
No seu jeito o meu destino,
Em rupreste relevo: amor!

Baco Dionísio, celebrando sentimentos, muito bons por sinal dos tempos...
04/12/07

segunda-feira, 3 de dezembro de 2007

Despertar

Espero ver os sons
Que o emaranhado da bouganville,
Espinhos voltados aos cardeais,
Deixaram-me de brinde:
Três gerações de minúsculos
Peito-amarelo e bico de beija-flor,
A piarem e provocarem,
Excitarem as flores:
Hibiscos e alandras
Numa festa de amanhecer;
As lágrimas-de-Cristo
Deságuam sobre o portal,
Primeiro as brancas
De corpetes vermelhos,
Depois as rubras
De conteúdo vinho;
Os trevos rebentaram,
Submergiram da terra
Nas suas quatro pétalas
E sinos de licores arandelas;
E acima da normalidade
A imperial balança suas folhas
Como uma bacante
A abanar suas grandes penas
Não sei se a saudar o dia que chega
Ou se despedir na noite extrema

Baco Dionísio, agradecendo as mensagens e desejando a todos um despertar para a vida...
03/12/07

Sonhos

Na vitrine da padaria
A atendente morena
Lenço na cabeça
Brincos de argola
Interpreta sonhos
Transforma marzipãs
Em moedas de ouro
Que escorrem pela rua
Uma correnteza de água-de-coco
A carregar máquinas
Caça-níqueis e de refrigerantes
Os pães filões viram canoas
As baguettes viram remos
Há gelatinas de bóias
Âncoras de fatias de pizza
Cafés e leites se misturam
Chope e vinho se coadunam
Gelados doces
Quentes salgados
E o creme amarelo do sonho
Lembra-me que estou acordado

Baco Dionisio, ótimo final de semana a todos
30/11/07

quarta-feira, 28 de novembro de 2007

Indigo Blue Anil

À noite...
Sob o sono dos distraídos
Bacantes passaram seus echarpes
Enxugando as esponjas velhas,
Carcomidas de tantas lembranças,
Chorosas de flash-back,
Mesmo já cumpridas suas molhanças;
E o Sol, ansioso,
Depois de tantos dias desgostoso,
Perdeu o sono e madrugou,
Ascendeu antes do cocoricô,
E por uns instantes flagrou
A eterna noiva Lua,
Tão pálida e seminua,
Vestida de sereia crua,
Já fechando suas cortinas pra rua,
Para um sono sem falcatruas,
Para a solidão fadada a minguar;
E o Sol,
Antes tão emburrado,
Brilhou de tão encantado
Mostrando a todos o seu despertar.

Baco Dionísio, feliz, sem saber direito o porquê, mas também pra que ia querer de saber...
Ótimo dia de Sol, ótima Lua de noite...
28/11/07

terça-feira, 27 de novembro de 2007

Passo

Um passo,
Um degrau sem previsão,
Outro passo,
Uma depressão,
Mais um passo,
Uma poça de águas
Turvas e manchadas
Sujam meu pisante,
Transformam meu semblante
Em cada passo do caminhar;
Coloco as mãos
Nos bolsos vazios do agora,
Dou bicudas em latas,
Restos de egoísmo sem reciclar,
Gomas de mascar derretidas
Retardam o meu não chegar;
Se olho baixo,
Perco meu horizonte
Sem tropeçar,
Se alto levanto os olhos,
Passo por cima dos outros,
Mas sem me desviar;
Um passo
Um olhar para baixo,
Outro passo
Minha visão lunar,
Mais um passo
Sinto onde vou chegar.

Baco Dionísio, cansado das nuvens e da umidade, mas agradecendo assim mesmo, com humildade
27/11/07

segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Fim de Tarde

Há retângulos de madeira
Como vários quadros
Na minha ribanceira
Minha sacada de fato
Voltada ao bom lado
Onde os astros se passeiam;
O fim da tarde
Queima no horizonte
Os vestígios do dia impune
Onde lágrimas até escorreram
Fizeram piada, represaram
Do dia que me varreram
Folhas de outros tempos
Galhos de outros pés
Restos de antigos ventos
Tudo agora vai virar adubo
Na fertilidade do meu crescer
Nos nutrientes do meu viver;
Pernilongos, marrecos e aviões,
Todos parecem ter o mesmo tamanho
Todos parecem ter os mesmos sons
Meus olhos de enxergar longe
Fixos que estão no poente
Apenas visualizam um contorno
Numa fresta de nuvem e fundo azul
Já é uma estrela que percebo
Será que é ela que eu vou ver...

Baco Dionísio, sábado, nublado, sem lua, sem grua e uma vontade enorme de escrever...
24/11/07

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Cheia

Assopro a fuligem do carbono
Restos de lápis no papiro
Como ventos de outono
Que insistem em resfriar
As cores quentes de novembro
Desenho um contorno, imagino,
Que silueta terá?
Alguém de quem conversar
Deixou de ser passatempo
Para tornar-se o melhor momento
De todo o dia a ganhar
Se o sorriso aparece
Quando da alegria escreve
Se o semblante entristece
Quando o cenário a aborrece
Se uma lágrima a trai
Quando a palavra
Uma lembrança lhe traz
Se rejuvenesce
Quando a frase toda
Boa mensagem lhe faz
Olho o horizonte
No amarelo da cheia Lua
Talvez logo a encontre
Andando na mesma rua.

Baco Dionísio, ótimo final de semana de Lua Cheia...
23/11/07

quinta-feira, 22 de novembro de 2007

Busca

Acordei do pesadelo da ilusão
Que segurava o bombear do coração
Preso numa lembrança sem nexo
De que tudo valia pelo sexo
Enquanto o sentimento virava de lado
E adormecia sem dó nem chiado
Como que esquecido no guarda-pó
Como que seguro em apertado nó
Agora vou tirar as manchas
Que os lençóis da minha alma
Ainda escondiam do sol
Agora vou acender as chamas
Deixar queimar na calma
As mandingas do meu hall
Que conturbavam meu sono
Que secavam minhas ervas
Que minavam meu tesouro
E me levavam às trevas
Mesmo que eu, às pressas,
Crê-se no caminho do ouro
Olhei pra dentro de mim
Perguntei ao infinito
Dei reza dei um pito
Talvez até de faniquito
Mudei a situação
Ouvi a verdadeira emoção
Mudei minha história e razão
Um brinde à clareza do coração.

Baco Dionísio, reaprendendo todo dia...
22/11/07

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Limpeza

Ventos fortes
Cheios de nortes
Varreram o carrego
O pesado de nuvens
Que lembram a morte
Que empaparam o solo
Regaram o colo
De todos os homens
Dias sem cor
Vias sem flor
Na água tanta
Sem trégua santa
A lavar com furor
A estiagem de olhos sem amor
Já há cor primária
No céu outrora carrancudo
E a lua não é secundária
Nesta tarde primaveril de outono
Há flores por vingar
Amores por pulsar
Um frio fora de lugar
E a certeza de que após essas águas
Garoas, pingadas, enxurradas
Um dia de sol há de pintar

Baco Dionísio, agradecendo a chuva, mas querendo um pouco de cor...
21/11/07

segunda-feira, 19 de novembro de 2007

Carícia

Fios de seda
Trançados sem nós,
Vou usar na minha senda
Para te cobrir,
Para te vestir,
Te proteger destes pós;
Com mãos de jardinagem
Vou tocar os teus cabelos,
Desembaraçar estes novelos,
Que outras mãos quiseram atar;
Águas das montanhas
Vou escalar para trazer,
Saciar este prazer
Da tua sede por manhas;
Frases de silêncio vou dizer,
Palavras de vento,
Melodias de sinos do tempo,
Para o teu dormir sem relembrar
Do quê ousou te magoar;
Um tocador de lira
A te entreter,
Um arqueiro de mira
A te proteger,
Um poeta a te eternizar,
Um homem
A sempre te amar...

Baco Dionísio, deixando o coração me levar...
19/11/07

sexta-feira, 16 de novembro de 2007

Tango

Eu te olho
Eu te olho
Eu te olho
Vestida de vermelho
Teu corpo dança
No salto alto
Teu rosto alcança
Meu ombro chora
O terno sem gravata
Meus sapatos pretos
Deixam rastros de graxa
Enquanto te enroscas
Enquanto te iludo
No meu canto mudo
No meu olhar vago
Você não rodas
Apenas meia-voltas
O rosto se vira
Teu corpo desvira
Teu colo suspira
Tuas pernas convidam
A mais uma volta
Te jogo pra trás
Te apoio
Você confia
Você me atrai
Você me olha
Você me escala
Você me trai
O som do acordeon
A rosa vermelha
Na boca vermelha
Na mulher vestida vermelha
Num lance desfalecida
No olhar fera ferida
Rodopia
Eu te olho
Eu te olho
Eu te olho

Baco Dionísio, tirando pra dançar...
16/11/07

terça-feira, 13 de novembro de 2007

Veleiro

Veleiro

Juntei as provisões,
Muitas previsões
Nas cartas náuticas,
Joguei o astrolábio
Na roda de búzios,
Girei a bússola
Como uma pedra de runas,
Amarrei de medidas do Bonfim
As velas do meu “Jornada”;
Porque já faz água este porto,
Já devia estar a muitos nós
Antes que me dêem por morto,
Deixa este vento me levar,
Quero meu tempo de flutuar,
Águas calmas?
Só é bom de fotografar...
Quero ondas a me desafiar,
Juntar os sais do oceano ao meu suor;
Escalar vagalhões,
Mergulhar sem balões,
Acertar um cardume com arpão,
Tirar para dançar um tubarão,
Ter uma noite de deus com uma sereia,
Mesmo que o prazer seja entrada meia,
Desses de acordar na hora agá.
E quando,
No mais alto da noite,
O tapete breu recortado de estrelas,
Molhar suas rendas nas águas sem reflexos,
E o único som
For do casco do veleiro acariciando o mar,
A solidão vier lhe sussurrar ao ouvido
Mesmo no centro do universo a estar
Acenda e ascenda às suas velas
Alinhe e realinhe os seus remos
E deixe a onda te acompanhar

Baco Dionísio, com gosto de mar, por que será?
13/11/07

Píer

Águas calmas machucam os pilares
Num som vazio de lembrança
Sentado na ponte viajo com meus olhares
Atravesso ondas de vingança
Naufrago em todos os mares
Sem afogar minha esperança;
Meus pés alcançam as águas
Sinto o piso do meu barco
Que ainda se arrasta cheio de mágoas
Que ainda se guia ao largo
Das eternas névoas;
As velas do meu tempo estão prontas
Estufam-se de vida a exigir a rota
Não há mais âncora a segurar
Nem há bússola para limitar
Apenas a vontade de cumprir minha cota
Aprendi a fazer os nós
Também sei desatá-los
Já posso navegar
Já quero atravessá-los
Nesta doce aventura no mar

Baco Dionísio,
12/11/07

Apaixonante

O olhar brilha
Não sega, cintila
Troca fluídos
Goteja de desejos
Encharca de meneios
Enfatiza
Deixa de existir ao redor
Para ao redor do olhar viver
Olhar que troca fluídos
Até se fazer gemidos
Até se fazer doar
Sem conquistas
Mas desvendando
Sem promessas
Mas se entregando
Olhar que troca sentidos
Faz as palavras virarem beijo
Umedece as sílabas
Cola nas gírias
E deixa o resto girar
Que só conhece
Quem ousou amar
Olhar que toca
Que se provoca
Sem atenuante
Olhar apaixonante.

Baco Dionísio, mandando a tristeza bater noutro lugar...
Ótimo final de semana a todos, um pedaço de bolo trufado a todos, patés de salmão e ervas finas, prosecco a 10 graus, malbecs a 16 graus, alegria sem termômetro e agradecimento pelos parabéns, mas “os sonhos não envelhecem...”
09/11/07

Verdade

Na verdade
Portas não há
Se há o que esconder
Por que verdade há de se chamar?
Escancarada é ela
Não um labirinto
Onde a mentira
Muda sempre o início
Reinventando a cada momento
Se repetindo tão envolvente
Passando-se por caminho
Enfeitando-se de querer.
A verdade
Mesmo que pela metade
É mais única
Que uma mentira inteira
Feita de muitas falsidades

Baco Dionísio, com todo o respeito ao mestre Drummond
08/11/07

Suave

O toque não deixa marcas
Apenas as digitais na alma
Das carícias parcas
No lento tatear de calma
Eriçando as penugens
Diminutos fios terminais
Acionando vôos às nuvens
Mergulhando em temporais
Submergindo mares tropicais
Desviando de cometas e asteróides
Na loucura sã de vários toques
No sibilar de alguns sinos
Na solidão de um despertar
Na confusão dos artifícios
Na geometria sem resquícios
Na geografia do teu amar.

Baco Dionísio, agradecendo a volta do azul do céu no Olimpo...
Ótima quarta de sol a todos...
07/11/07

Simples

Talvez usemos palavras demais
Rebusquemos fantasias gramaticais
Tentando levantar teorias colossais
Para fingirmos não sermos banais
Somos crianças
Temos preguiça
Na esperança
De alguém que lhe diga
O que queria falar
Para um ato de carinho
Basta um simples olá

Baco Dionísio, simplificando, beijos no teu coração também
06/11/07

Amor Incondicional

É tão somente uma forma verbal
De não agir contra todo o mal
Que o desamor possa lhe acometer
Sede justo, mata a sede
Esquece e enobrece
Não deita fora teu mel
Precioso é fazê-lo
Recolhendo de tantos polens
De tanta existência
Para quem só ao fel sabe agradecer
A justiça é dividir tua doçura
Com quem quer partilhá-la
E deixar aos pobres de espírito
Que decidam qual o sabor da sua própria história.

Baco Dionísio, piscando para Zeus e cruzando os dedos, também dizendo eu te amo, beijos
06/11/07

Brilho

É uma tina com pouco líquido
É uma lâmina d’água de alto risco
Um espelho d’alma de valor místico
Uma luz a se esconder do seu vício
De desafiar as trevas e seus discípulos
Na batalha diária de mais um capítulo
A escrever a história como um vestígio
Armando-se de letras com prodígio
Lançando rimas de artifício
Falando de amor com sacrifício
Amando a vida em pleno exercício
Em frases e mantras de poder mítico.

Baco Dionísio, de conversa com os Orixás, cantando para subir...
Ótima terça-feira aos mortais e imortais
06/11/07

Navegar é

Navegar é preciso
Mesmo que à margem do tempo
Mesmo que sem bússola
Mesmo que o porto
Seja uma fração de calmaria
Navegar é preciso
Que a vida não é montaria

Baco, segurando o leme das paixões
06/11/07

Música

Se o violino chora
A cuíca ora
Se o baixo acústico
A guitarra namora
O atabaque rústico
Corre agogô
Esperneia percussão
Lamenta o sax
O trompete fora de hora
O pandeiro ainda rola
De rir do cravo
E a rosa infla a harmônica
Que sopra com fé o oboé
Nas tarjas pretas do piano
Se inspira o órgão
Sem encantar do clarinete
Que a flauta quer imitar
Para o cello conquistar
E encerrar este falsete.

Baco Dionísio, noite de sons a todos os mortais
05/11/07

Tapete Mágico

A chama da vela
No espelho do canto
É a alma que revela
Não é dia de espanto;
Tomo um cheiro da alfazema
Capto o acre do alecrim
A arruda espanta os feios
Olhos que mangam de mim;
A pimenteira roxa libera
Suas ardidas energias
Comigo ninguém pode
Me esfrego de erva-de-santa-luzia;
No pau-santo acendo o incenso
O sândalo invade toda a magia
No cristal bruto meu intento
A água pura a tudo incendeia;
Flores brancas acalmam meu tormento
Sobre o tapete mágico
Vou levitando
Minha vassoura são meus pensamentos
Que nesta noite de chapéus e travessuras
O doce da poesia seja teu encantamento

Baco Dionísio, mais para travessuras nesta noite doce...
31/10/07

Olhares

Se lhe falta a palavra
Se lhe foge o que dizer
Cerra essa boca com brandura
Deixe que o silêncio
Fale por você
Se lhe escapa todo o texto
Se dá branco no contexto
E teu vocabulário esgotou
Deixa as palavras guardadas
Deixe teu vernáculo adormecer
Se o som das tuas cordas
Não têm vogais nem consoantes
Que expliquem o que não vai fazer
Deixe o teu rosto mais tranqüilo
E basta teu olhar para esquecer
Não digas o que queres não dizer
Mas olhes o que desejas ver.

Baco, uma boa noite a todos
30/10/07

O melhor

O melhor vinho
Não é o que o rótulo sugere
Nem que teu crédito fornece
Não é a safra ótima
A uva certa
A estação perfeita
O melhor vinho
Está na tua taça
No momento da graça
Em que o degustas
Com todo o prazer
Que tua sede atiças
Com todo o saber
Que teus sentidos aguças
O melhor vinho
É o que estais a tomar em tua boca
Divindo olhares
Tilintando cristais.

Baco, para cada momento há um vinho certo e ele sempre será o melhor do mundo...
29/10/07

Mudanças

Na caminhada
Novas trilhas sempre aparecem
Novos rumos se oferecem
E a gente não sabe onde vai dar
Muitos desses caminhos novos
São apenas atalhos
Para voltar
Outros são tão rasteiros
Que iludem forasteiros
Como se o tivessem levando
Mas ficam no mesmo lugar
Seguir em frente é tão simples
Seguir para frente é tão complicado
Porque a cada esquina paramos
Para escutar papo-furado
Daqueles que já desistiram
Daqueles que nunca tentaram.

Baco, filosófico, mas que não vai ficar na esquina
Boa hora para chegar setembro
Ótimo final de semana para todos
31/08/09

Tristeza

A tristeza não é de ninguém
Não vem de amigos
Que te querem bem
Nem dos inimigos
Para que perder tempo também
Esta companheira que nos murcha
Aprisiona e sufoca
Apenas é um respiro
Uma estação
Para que continuemos a alegria
De cultivar amizades
E de transformar inimizades
Em grandes parcerias

Baco Dionísio, não dando a outra face, mas não virando as costas
02/10/07,

A dois

Na mesa
Duas chamas retorcidas
Brincam com as sombras
Acariciam os perfumes
Iluminam os vapores
Do amor que está no ar
Na mesa
Duas taças brilham
Dois cristais brindam
Refletem duas estrelas
Repetem sábios temas
Do amor que está a pulsar
Na mesa
Os olhares não se cruzam
São raios que se fundem
Luzes de se combinar
Foco de se entregar
Do amor que chegou para o jantar

Baco Dionísio, colocando a mão na massa
Jantares de se fartar a todos os mortais e imortais...
18/10/07

Sabores

Minha boca está a fim
De a tudo sentir
Da textura sem resistência
De uma gota de mussarela
Como se fosse o beijo dela
Com o virgem azeite a fugir
Dos cantos dos lábios
Dos encantos dos sábios
Dos pensamentos mais vagos
A escorrer e brilhar de prazer
Meu paladar transforma
Todo o ardor da rúcula
Numa compota de abricot
Guardando sabores rivais
Como bolhas de clicquot
Anotadas na súmula
Notas, aromas e que tais
Doce veneno que me toma
Minha língua quer captar
No torrefado café
Sem açúcar para enganar
Todo o poder da fé
Que modifica o que amargo parece
No suave sabor casto
Do mel que a tudo enobrece
Meu beijo quer encontrar
Sabores diversos para encantar
Lábios avessos para desvirar
Sabores ácidos para adocicar

Baco, saindo da clausura e da loucura de ter que trabalhar
Saudações a todos
16/10/07

Bilhetes

Amor é bom de sentir
Não importa se chora ou faz rir
Movimenta todo o existir
Acelera todo o vagar
Acende todo o apagar
Vai de zero até mais não agüentar
De sentir é bom o amar
E daí se vai esfolar
Quem previu se é de ficar
Garantiu que não vai findar
Enquanto a palavra não fugir
Porque esta chama não vai sumir
Há muita lenha pra consumir
Há muitos bilhetes para lembrar
De sentir é bom o amar.

Baco Dionísio, eternamente apaixonado, boa noite de amores a todos...
03/10/07

Degustar

Observar
Radiografando cada detalhe
Cheirar
Aspirando toda essência
Tatear
Percorrendo todo entalhe
Ouvir
Escutando cada silêncio
Sentir
Não esquecendo a presença
Olhar
Filmando toda ausência
Morder
Cortando toda resistência
Beber
Sorvendo todo incenso
Tocar
Religando cada nervo
Largar
Soltando todo medo
Beijar
Entregando cada desejo
Amar
Como se fosse o último momento

Baco, desejando momentos inesquecíveis a todos os mortais e imortais
02/10/07

Convívio

Eu vou atrás da beleza
Eu vou correndo com destreza
Para poder o feio transformar
Em algo que não vá assustar
Porque o belo
O que não é senão admirar
Com outros olhos
O que não se consegue enxergar

Baco Dionísio, agradecendo a companhia e convidando a celebrar
02/10/07

Folhas

As folhas vivem seu tempo
De abraçar o sol
E se abanar de vento
De se lavar de chuva
E de dormir ao relento
E estão sempre lindas
Estão sempre prontas
Para receber seu rebento
Que explode em espigas
Erupções de brinquedos
Delicadas cores
Peles sem arremedo
A produzir tuas flores
A cumprir teu medo
De existir para o dia
Sem achar que é cedo
De se mostrar alegria
De se livrar do teu peso
Que é tocar a lira
Até calar teus dedos.

Baco Dionísio, compartilhando de que viver é não ter a vergonha de ser feliz...
02/10/07

Único

É o tempo presente
É este exato segundo
Que não se deve deixar de viver
Que não se deve deixar de amar
Porque depois, quem sabe
O que é que vamos encontrar
Especial é tornar
Cada minuto respirado
Com toda paixão de um amado
Com toda a força do mar
Com cada vôo de pássaro
Com toda sequência do passo
Com a sabedoria de caminhar
Com toda essência e perfume
Com toda luz e negrume
Com todo prazer em degustar
Cada minuto de vida
Cada segundo de olhar

Baco Dionísio, feliz e querendo isto compartilhar
02/10/07

Por enquanto

Vou vendo que está tudo um encanto
Com outros olhos estou me enxergando
Com outro tato estou me aguardando
Com tudo azul leio no recanto
Com todas as cores ouço mais um canto
Com muita luz eu seco todo meu pranto
Sem violão mas eu vou tocando
Sem um tostão mas eu vou pagando
Com a paixão que me cobre em manto
Com o coração que fez decano
Com o amor que me tomou sem dano

Baco Dionísio, celebrando tudo porque simplesmente vale a pena ser feliz
01/10/07

Córregos

Por aqui são córregos
Cuja inocência foi ultrajada
Pelos esgotos clandestinos
Pelos escrotos excluídos
Pela indecência de não morar
Pela necessidade de não voltar
De onde quer que tenham vindo
Não há nascente na minha terra
Que já não traga de lapela
Toda a sujeira do trabalhar
Toda a ganância do não cuidar
Da terra que tanto lhe marca;
E quando estes córregos se arrastam
Pesados, densos e escuros,
Em direção ao rio maior
Tiete de muitas histórias
Da própria razão de existir
Os homens que destroem seus lados
Que sujam seu leito
Ainda batizam seu caminho
De marginal

Baco Dionísio, amando sua cidade mas sem venda nos olhos
28/09/07

Luzindo

Surpresa de encontrar
Sem procurar achar
Um clarão a iluminar
As noites escuras sem festejar
As taças sujas sem brindar
Onde outrora muitas festas
Inspiraram as serestas
Excitaram tantas frestas
Sob a claridade do luar
Feliz de esbarrar
Como se fosse atravessado
Por um raio desejado
Feixe colorido abençoado
A varrer o empoeirado
De alegrias do passado
Já se faz começado
Um novo tempo de celebrar

Baco, com veia poética, etílica, vinífera e profética.
Noite de lua cheia com as bênçãos da claridade apaixonante do amar
27/09/07

Alegria Celebrada

Amante das taças cheias
Cantante de luas cheias
Embora hoje ela está a sorrir
Crescendo neste céu zodiacal
A festa não precisa nada disto
Quando a embriagues não é sinal
De muitas taças entornadas
De muitas lágrimas roladas
Mas de uma alegria que até então
Jazia escondida
Abafada em prisão
Com medo de sorrir de verdade
Sentindo-se bandida
Na marginal da contra-mão
Alegria voltou nas cores
Que ainda não pude
Decantar
Mas que na alma
Numa óptica digital
Revelada está.

Baco Dionísio, celebrando a alegria de um sorriso no ar
20/09/07

Carência

Não sei tua real aparência
Nem sei mesmo nada
Desta tua existência
Mas dizes de vida louca
Na maior transparência
Fazer o teu viver
Talvez seja apenas um momento
De recolher as cordas
Deste teu eterno escalar
Talvez seja a hora de guardar os remos
Deste bote a navegar
Deixar um pouco a âncora
No seu porto de esperança
Olhar apenas e sorrir
Que esta tua parada
Não é desistência de nada
Apenas um tempo de refletir
Que toda mulher guerreira
Por mais que esteja certeira
Precisa cuidar de si

Baco Dionísio não gosta da tristeza, principalmente quando tira o brilho alegre de uma mulher.
19/09/07

Feliz

Uma lua sorriu sobre minha cabeça
E veio com uma estrela no canto
Então como por encanto
Um rosto feliz eu pude ver
Ao invés de olhar para cima
Procurando algo para crer
Deixei refletir em meus olhos
Aquela imagem feminina
Da luz em fresta a sorrir
E aquela marca no canto
Mais parece um bordado no manto
Da escuridão ao redor
Crescente é a vontade
Fervente é o desejo
De um olhar de verdade
De um real primeiro beijo

Baco Dionísio
18/09/07

Lágrimas sim

E porque não seriam
Se chorar aliviam
Todas estas angústias
Que há muito já deviam
Ter virado um livro ou capítulo
De uma história encerrada
Mas lágrimas sim, sábia,
Vão regar minhas flores
Devolver os seus sais
Enquanto eu
Aliviado
Vou poder sorrir
Sem mentir jamais

Baco Dionísio, esperando a primavera de bacos abertos...
17/09/07

Sonho de vida

Também estou juntando os cacos
De um amor mal encerrado
E quando isto acontece
A lembrança de outros também entristece
Mas não desisti, porque vivi
Momentos de êxtase neste esfacelado
Conto da história de um amor mal acabado
A insônia consome meu humor
A tristeza é como um tumor
Mas sei que estou vivo
Cada vez que toco nestes teclados ativos
Cada vez que minhas palavras
Acendem a chama de alguém
Estou me abastecendo do além
Até repetindo mais da conta amém
Porque eu acredito no amor
Não deixei de ser homem
Não larguei de ser gente
E principalmente
De agir como poeta
O Olimpo não é refúgio
É apenas uma parada
Onde talho meus sentimentos
Onde pinto meus momentos
Até que a dor seja curada
Mas tu és mulher sim
Nas palavras
No carinho
Na coragem de se dizer infeliz
Que é o começo
Como se por um triz
Acender a mulher que está em ti.

Baco Dionísio, machucado, mas sem medo de ser feliz
17/09/07

Tudo que prende...

Não creio em laços bons ou ruins
Tudo que prende não evolui
Mas o nó apertado
De um tempo atado
Precisa de outro tempo
Para se ver desamarrado
Pois se cortar apenas
Será um laço arrebentado
Mas se desfeito o nó
Uma corda para muitos
Inteira e livre das penas será
Baco Dionísio, com salmos, provérbios e todos os orixás
17/09/07

Beleza

Não se classifica a beleza
Ela é por si mesma
De toda natureza
Feminina
Não é pagão
Libertar este mármore
De curvas e paixões
De toques e apertões
De línguas e temperos
A beleza não é arte
Que se defina em uma parte
O belo existe na mulher
Que sem pudor, sem alarde,
Exibe seus segredos
Sem no entanto mostrá-los
Atiça o desejo
Mesmo sem consumá-los.

Baco Dionísio,
17/09/07

Respingos

Uma rosa vinho
Ainda transpirando
Suada da sua beleza
Ou molhada da sua destreza
São gotas que sobraram
De outras bocas
Ou pingos que ficaram
De muitas trocas
Rosa vinho luz de velas
E na frente o olhar da bela.

Baco,
14/09/07

Está aberta

Abro a janela para exterminar as sombras
Revejo se está tudo em seu lugar
É o sol, o vento, os sons,
Um casal de sabiás a brincar
A sensação de liberdade
É tudo que mais importa na vida
Entra pela minha janela aberta
Para o lugar de onde nasci
Por tanto tempo
E porque retornei aqui
Pergunto a mim mesmo
Se estás com saudades
Encabulo e digo, de verdade,
Não é ruim este sentimento
Também não serei o primeiro
A chorar o amor verdadeiro...
Mas porque essas lágrimas
Que teimam em não mostrar
Que era apenas eu abrir
Apenas esperar
De janela aberta observar
Para você retornar pra minha vida
Já que nunca saiu dela,
E mal aberta a porta, rangida,
Para desfazermo-nos das vestes fingidas,
Para nossos poros se beijar
Matando a saudade do contato
Encharcando nossos órgãos de prazer
Tornando pura a nossa fonte de beber
Baco Dionísio, a tarde e outras coisas estão fervendo
14/09/07

Baco Dionísio

Sou Baco de primeiro nome
Dionísio dos ancestrais
Existo para acabar com a fome
Que entristece aos mortais
Não o apetite da energia
Embora não despreze uma iguaria
Mas a abstinência carente
Que uma taça desfaz
Reflexo de diamante
Olhar que não satisfaz
Eterno amante...

Baco, espiando do Olimpo se ao seu nome jus faz...
13/09/07

Todo Dia

Todo dia é um recomeço
Já que o que se fez
Jamais vai te levar
Se você não levantar
Mesmo que do tropeço
Mesmo que do sono lento
Ou da glória de conquistar
Sempre é um recomeço
De baixo, do topo,
No meio do caminho
Ou parado do esforço
Um recomeço sempre será

Baco Dionísio, lado a lado com Deus, ótimas vibrações para você
13/09/07

Instante

A vida não segue seu curso
Nós é que estamos no leme
Embora as tempestades
Podem nos desviar do rumo
Talvez o caminho não era bem aquele...
Os minutos são apenas mecânicos,
Roldanas e polias matemáticas
A repetir o mesmo tônico
Som de quem espera mágicas
A vida é mais que um tic-tac
É bem mais que dois ponteiros
É muito além de um despertar
Porque a cada instante
Acordamos de um lugar
Ou continuamos no sonho
Da mesma história contar
Repetir, repetir, repetir
Como um relógio
Na inércia do pêndulo
Esperando alguma hora certa
Será que ela é esperta
Para o cuco tocar
Se eu fosse o pássaro
Assim que abrisse a portinha
Ou mesmo que fechada estivesse
Voaria além das engrenagens
Mesmo que esse vôo livre
Apenas um instante durasse.

Baco Dionísio, como aprendiz de Deus, faço parar o tempo se ele não te agradar
13/09/07

Uma história de vitória

Onde sou protagonista
Onde sou coadjuvante
Onde sou autor
É melhor ter uma lembrança triste
Porque vazio de memórias um baú não existe
É preciso bagagem
Para ter do que se despir
É preciso ter um beijo lembrado
Para este novo valer
É bom recordar de um carinho
Para um novo toque lhe derreter
Porque não lembro da despedida
Não lembro mesmo se houve partida
Mas da surpresa sentida
Que o primeiro olhar me fez crer
Que há amor sim
Basta a gente querer

Baco Dionísio, acreditando sempre numa feliz história sem final, com muita paixão e muitos tins tins
13/09/07

Manto Noturno

O manto da minha noite não me traz só paz
Também aquece as paixões
E desperta emoções
Algumas boas, outras nem tanto,
Um pouco de saudade
Daquele abraço perdido
Do carinho esquecido
Enquanto assistia tv
Este manto me aquece
Mas há o que não se esquece
Mesmo que a memória não queira
O coração bambeia
E rega todo o meu olhar
Até que uso um canto
Pra enxugar meu pranto
Com este meu noturno manto
Até voltar minha paz.

Baco Dionísio,
13/09/07

Vôo cego

Também sou um ser noturno
Não pela escuridão que a maioria vê
Mas pela transparência que os especiais enxergam
Pelo raio x que os sensíveis captam
Pelas ondas que os radares rebatem
Pelos odores que os caçadores inalam
Pelos sabores lentamente degustados.
Sou a noite sem descanso
Mesmo que a lua falte
Mesmo que as brumas saltem
Mesmo que meus gemidos me entreguem
Porque à noite sigo meu farol
Sem bússola, sem estrelas,
Dos olhos da minha amada.

Baco Dionísio, noturno por existência
13/09/07

Todo amor vivido é uma vitória

A noite perdida
Pode ser a última
Porque já se faz esquecida
Não recordo dos amores que tive
Deixo o lugar da cama vago
Para o que o presente se vive
Não vou deixar de ir ao céu
Se outro toque não me enebriar
Mas as lembranças podem ocupar
O lugar da pessoa certa que chegar
Serão outros carinhos
Beijos de jamais esquecer
Enquanto eles existirem
Nenhuma recordação vai me entristecer
Mas se a chama, outra vez, deixar-se apagar
Pelo vento do destino
Volto ao leito, volto ao ninho
Para outro fogo atiçar.

Baco Dionísio,
13/09/07

Melhor lembrar sim...

Como posso esquecer do ontem
Se era ontem que estava bem
Sem lembrar de nada
Apenas seguindo a estrada
O que acontece hoje
O que agora me acomete
Do nada, sem graça,
A mesma tristeza se repete
Será que vai tirar meu sono
Será que vai molhar meu rosto
Será angústia passageira
O que será, feiticeira?

Baco, cansado da montanha russa... beijos
12/09/07

Lembrar do Primeiro...

Quando as coisas parecem chegar ao fim
Como se o fim fosse o final
Talvez é a hora de dizer: sim
Porque a afirmativa encerra o mal
Que encobre uma despedida
Que escurece qualquer partida;
Basta lembrar do entardecer
Que apesar do frio lhe trazer
Que o dia chegou ao terminal
Pode haver do outro lado um luar
Que é tão somente outro lugar
Tão simplesmente recomeçar
Apenas um instante de se recolher
Para outro dia nada igual
Para um novo festival;
É fácil lembrar do momento último
É assim que tudo se repete
É a opinião que o impele
O que a humanidade coloca no púlpito
Basta recordar com um certo esforço
Basta abrir todo este calabouço
E se libertar deste desejo
De germinar qualquer desamor
Renascer da semente do rancor
Na lembrança doce e de desapego
Daquele primeiro beijo...

Baco Dionísio, celebrando alegria e desejando a todos um ótimo dia
12/09/07

Pulsar

É fácil ter agradecimento
É simples sentir gratidão
Quando o coração da gente
Fica livre da obrigação
De se comportar apertado
Dentro de um peito calado
Costelas que lembram prisão
Mas se conseguir pulsar
Ao ritmo de uma canção
Vai circular energia
Vai transformar em alegria
Qualquer desilusão
Pulsa na beira do lago
Faz tremer a calmaria
Repete num abraço
Todo o amor a que se entregou um dia
Agora desconfiado
Espia pelo vigia
Para não ser de novo enganado
Pede aos olhos o seu guia
Mas já se sente afobado
Ao sentir uma nova iguaria
Bate então esfomeado
Faz-se de rogado
Para uma nova romaria...

Baco Dionísio, nem tão cá, nem tão lá, muito pelo contrário...
Ótimo dia de magia, poesia e decisões...
11/09/07

Uma Rosa

Uma rosa
É um grande começo
Não é prosa
Se é o que pareço
Pois se vermelha a vê
Há de ser com sentimento
Dos espinhos ao ferimento
A vontade de colher
Sobrepõe ao sofrimento
De arrancar esse rubi
Da sua mãe, do seu sustento.

Baco Dionísio, Beijos e ótima semana com rosas, petúnias, orquídeas, girassóis, madresilvas, tulipas...
10/09/07

Julgado

Fui chamado ao tribunal
Sem petição inicial
Não me deram defensor
Nem sequer a palavra
Pude usar no corredor
Desta inquisição insana
Que já queima profana
Todo este estranho amor

Baco Dionísio, beijos, esta semana será dos desejos
04/09/07

Amor Sorriso

Aquele sorriso não esqueço
Foi uma janela para o espaço
Onde naveguei sem cansaço
Procurando nunca chegar.
Aquele beijo alegre
Virou um despertar
Desandou a fervilhar
Em meu coração agreste
Quem sabe eu guarde
Para sempre estes momentos
Para não perder meu leste
Não deixar minha vida ao vento
Nem esquecer da alegria
De um primeiro beijo...

Baco Dionísio, ótima terça-feira aos mortais, ao deuses e, principalmente, às DEUSAS
28/08/07

Beleza

É a luz
Refletida no cristal
De nossos olhos
Quando olhares
Se entregam sem razão.
Beleza
É quando o beijo
Não é um ato
Nem só desejo
É simples beijo
Apaixonado
Beleza é se fundir
É se expandir
E iluminar
Tudo ao redor.
Beleza é amar
Sem saber
Se vai durar
Se vai vingar
Ou se perder
Ou se extinguir
Beleza é viver.

Baco Dionísio, bagunçando o coração dos mortais, inclusive o meu.
24/08/07

Prato do Dia

Não mato galinhas
Simplesmente as como
Na cabidela
Na brasa fera
Aos pedaços fritos
No molho rico
Com grão-de-bico
Com macarrão
Com risoto de açafrão
Dançando ao curry
Com maionese e salsão
Curtindo o gengibre
Enfeitando batatas
Adoçando laranjas
Mergulhando na cerveja
A farofa de todas as misturas.

Baco Dionísio, com apetite, mas sinceramente, prefiro um salmão com ervas de provence ou uma anchova apenas no sal grosso, tudo isso para justificar um chardonnay a 14º, duas taças, duas velas, duas...
23/08/07

Celebração

Acordar todos os dias
E agradecer todas as vias
Sem mesmo saber a razão
De por elas passar
É a celebração
É um ato de amar
De todo coração.
Não dá para enganar,
Nem para se esconder
A gente não mente para a gente
A não ser que não se goste
Então é melhor não dormir jamais
Pois o sono não será dos justos
Os sonhos não serão tranqüilos
E a paz não voltará ao acordar.
Acordar todos os dias
E agradecer todas as vias
Sem mesmo saber a razão
De por elas passar
É a celebração
É um ato de amar
De todo coração.

Baco Dionísio
21/08/07

Tinto

Eu sinto
Não minto
O labirinto
Meu instinto
Recusa o absinto
Decreta extinto
O mal infindo
Sobretudo
Após um bom tinto

Baco Dionísio, não esqueçam de agradecer aos deuses tudo o que lhes aconteceu
16/08/07

Frio!

Este clima convida
Este astral tem vida
Aproxima
Aquece
Enobrece
Aparece
A ficar juntos
A trocar assuntos
Trocar fluídos
A se fundir
A dividir
A mesma taça
O mesmo gole
O mesmo bouquet
Então não por quê?

Baco Dionísio, ótima noite de prazeres...
15/08/07

Mistura

Este dia, qualquer dia,
Vale a pena ser feliz,
Uma vez que é só sorrir,
Sempre alegre será a aprendiz
De bruxa, de maga, de atriz,
De mãe, poeta ou meretriz,
Sempre sorrisos terá:
A mistura da inocência
Com a malícia de ousar,
A postura incoerência
Com a arte de pousar,
O feitiço da falência
Com a mania de posar.
Este dia,
Pode ser qualquer,
Um dia qualquer não pode ser.

Baco Dionísio
15/08/07

Vívida

A vida não se trata
Se "véve"
Coisas misturadas
Nas lembranças de um viajante
Saudades do porto seguro
Falta das tempestades
Buzinas de um farol escuro
Festas entre celebridades
Excesso de zelo
Falta de gelo
Olhares vazios
Em copos cheios
A cidade está lotada
De cores azuladas
Pelas tvs de plasma
E a falta de conversa
Embora os assuntos abundem
Pessoas não se reunem
Em volta da fogueira
Não fantasiam
Heróis e lutas épicas
Mas engolem
Seus hamburgueres sem proteinas
Entupindo de grana
Entupindo as veias
Entupindo a vontade de fluir
Desatinando o sentir
Esquecendo do amar
Protelando o viver
Entrando na UTI
Sem chances de voltar.

Baco Dionísio, sóbrio demais
09/08/07

In spiração

Eu guardei as palavras
Não porque as aprisione,
Mas talvez cansada
Minha alma entrou em pane;
Nada de sofrimento,
Já que este sentimento
Brota rimas e metáforas,
Mas foi coisa de momento,
Foram datas e marcas,
Que o silêncio era a medida
Para não sentir perdida
A direção das minhas barcas,
O norte da minha existência;
Passadas as noites minguantes,
Vamos abrir os frisantes,
Que festejar é a essência
De todo e qualquer viver.

Baco Dionísio
09/08/07

Taças

Uma taça é solidão,
Ou falta de opção,
Mas pode ser decisão
De apenas um sozinho
Degustar um bom vinho
E olhar uma paixão.
Duas taças são um clima
De velas, flores e rimas
De diálogos e parcerias
De divisão e alegrias.
Três taças é um encontro
De amigos velhos
E novos prantos,
De conversas antigas
Em manchetes novas,
De pratos clássicos
Com nomes atuais.
Quatro taças são duas,
Dois pares que sobreviveram
Às boas e nem tão boas safras
Das chegadas e partidas,
Dos sonhos e pesadelos,
Dos acordes e desatinos.
Muitas taças, muitas taças,
É a festa.

Baco Dionísio
02/08/07

Embriagado

Às vezes,
No primeiro gole
Toda coragem se manifesta
Nos medrosos de coração.
Às vezes,
São muitas taças
As que libertam
Todos os ritos,
Todas as raças,
Da escuridão.
Às vezes,
Basta o primeiro beijo
Para iniciar
Uma grande paixão,
Mas são
Tantos outros beijos
Que conquistam
Um coração.

Baco Dionísio, deus do vinho e aprendiz de cupido
26/07/07

Crescente

Após todo o azul do dia,
Quando alaranja nosso horizonte
E descortina a Estrela Guia,
Perceba que há uma grande
Escancarada, desafiadora,
Provocante e insinuante
Alegria no crepúsculo:
Um sorriso dos deuses
Vai crescente nos céus.

Baco Dionísio
20/07/07

Coração Festeiro

É sempre uma ressaca
Quando um amor se vai
Dói em toda alma
Cutuca em todo lugar
Mas no coração festeiro
O show não tem parada
E um olhar certeiro
Descobre a nova amada
E mudam as mesmas músicas
Tocam os mesmos sons
Mas a cada nova musa
A sinfonia toca no melhor tom.

Baco Dionísio
12/07/07

Taças ao Vento

Seguro meu cristal
Contra a luz de meus pensamentos
Uma taça vazia reflete
Todos os momentos
Que cheia estava.
A cor púrpura
O sabor acre
Os vapores que amenizam
Tudo vêm à memória
Tudo é uma história
De alegrias tristes
De tristezas felizes
Contidas na taça
Soltas no vinho na vida.
Amores que vão,
Amores que entram,
Ao sorver o líquido tanino
A poção mágica
Traz o efeito de libertar
Até o mais triste dos mortais.

Baco Dionísio
05/07/07